Leia o texto. Se necessário, consulte as notas. No passado, os homens tinham certezas religiosas e morais. Toda a vida individual e social...
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
No passado, os homens tinham certezas religiosas e morais. Toda a vida individual e social estava organizada em redor dessas crenças sagradas. Os seus símbolos de pedra, os monumentos religiosos, sobreviveram aos milénios, tal como as estátuas dos deuses e os livros de inspiração divina. A grande mudança teve lugar com a Revolução Industrial.
Então, a pouco e pouco, a banca, a bolsa, o arranha-céus de escritórios substituíram a catedral. Paralelamente à crise do sacro, difunde-se a recusa do conceito de pecado e, eventualmente, do conceito de culpa. Já não existem tábuas da lei absolutas e imutáveis, e muitos pensam, depois de Nietzsche, que os conceitos de bem e de mal se estão a desvanecer, tal como a ideia de demónio e de tentação.
Muitos pensadores laicos constatam que o pensamento progressista triunfa hoje, mas como que despojado de valores. Ensina a não ser fanático, a ser tolerante, racional, mas, ao fazê-lo, aceita um pouco de tudo, o consumismo, a superficialidade da moda, o vazio da televisão. Não consegue, sobretudo, fazer despontar nos indivíduos uma chama que vá além do mero bem-estar, um ideal que supere o horizonte de uma melhor distribuição dos rendimentos.
Não cria metas, não suscita crença. Não sabe fornecer critérios do bem e do mal, do justo e do injusto. Desta forma, tudo se reduz à opinião e à conveniência pessoais. Isto é o que os filósofos, os sociólogos e os observadores críticos continuam a dizer do nosso mundo. E não restam dúvidas de que, em boa medida, as suas observações têm fundamento. Mas, em nosso entender, não tomam em consideração os valores positivos do mundo moderno, a sua moralidade específica.
Partamos da observação de alguns factos. A nossa sociedade tem muitos valores reconhecidos, partilhados, não discutidos. Considera negativamente a violência em todas as suas formas. A nossa sociedade eliminou as formas mais brutais de abuso. Eliminou o duelo, as vinganças privadas. Hoje, a pouco e pouco, está a eliminar os focos de guerra.
Combateu a doença e as dores físicas e mentais. Defendeu as crianças, os velhos, os doentes, protegendo-os com uma rede de direitos. Combate os preconceitos raciais, as discriminações étnicas. É certo que estas coisas ainda existem, mas são condenadas e combatidas como nunca o foram no passado. Também não é verdade que não sintamos o dever. Sentimos como drama e dever a pobreza do Terceiro Mundo. Sabemos que é nosso dever acabar com a miséria, com a fome, com os desgastes provocados pelas doenças.
Sabemos que é nosso dever dirigir o progresso técnico para um equilíbrio ecológico que garanta a vida às gerações futuras. Não nos sentimos, de facto, para além do bem e do mal. Talvez sejamos hipócritas, mas damo-nos conta de que os desastres sociais e naturais são o produto do nosso egoísmo individual e coletivo.
NOTAS
bolsa (linha 5) – bolsa de valores; instituição onde são realizados negócios relativos à compra e venda de títulos de crédito, ações, fundos públicos, etc.
laicos (linha 10) – que não são dependentes de qualquer confissão religiosa.
sacro (linha 6) – sagrado.
QUESTÃO 02
(IAVE 2018) Na opinião de muitos pensadores, o «pensamento progressista» (linha 10), entre outros aspetos,
(A) falha por não discriminar entre o certo e o errado.
(B) incute ideias que ultrapassam a noção de bem-estar.
(C) insurge-se contra a criação de metas e de crenças.
(D) adquire relevo ao não dissociar fanatismo de intolerância.
QUESTÃO ANTERIOR:
- (IAVE 2018) No primeiro parágrafo do texto, os autores evidenciam a ideia de que, nas sociedades atuais,
SOLUÇÃO:
(A) falha por não discriminar entre o certo e o errado.
«falha por não discriminar entre o certo e o errado» porque, como os autores acrescentam imediatamente a seguir, «mas como que despojado de valores» (os do Bem e os do Mal, os do que está certo e os do que está errado).
PRÓXIMA QUESTÃO:
- (IAVE 2018) No terceiro parágrafo do texto, os autores recorrem a um conjunto de exemplos para mostrar que
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Provas Exame Nacional de Portugal 2018 (1ª e 2ª Fase) com Soluções
No passado, os homens tinham certezas religiosas e morais. Toda a vida individual e social estava organizada em redor dessas crenças sagradas. Os seus símbolos de pedra, os monumentos religiosos, sobreviveram aos milénios, tal como as estátuas dos deuses e os livros de inspiração divina. A grande mudança teve lugar com a Revolução Industrial.
Então, a pouco e pouco, a banca, a bolsa, o arranha-céus de escritórios substituíram a catedral. Paralelamente à crise do sacro, difunde-se a recusa do conceito de pecado e, eventualmente, do conceito de culpa. Já não existem tábuas da lei absolutas e imutáveis, e muitos pensam, depois de Nietzsche, que os conceitos de bem e de mal se estão a desvanecer, tal como a ideia de demónio e de tentação.
Muitos pensadores laicos constatam que o pensamento progressista triunfa hoje, mas como que despojado de valores. Ensina a não ser fanático, a ser tolerante, racional, mas, ao fazê-lo, aceita um pouco de tudo, o consumismo, a superficialidade da moda, o vazio da televisão. Não consegue, sobretudo, fazer despontar nos indivíduos uma chama que vá além do mero bem-estar, um ideal que supere o horizonte de uma melhor distribuição dos rendimentos.
Não cria metas, não suscita crença. Não sabe fornecer critérios do bem e do mal, do justo e do injusto. Desta forma, tudo se reduz à opinião e à conveniência pessoais. Isto é o que os filósofos, os sociólogos e os observadores críticos continuam a dizer do nosso mundo. E não restam dúvidas de que, em boa medida, as suas observações têm fundamento. Mas, em nosso entender, não tomam em consideração os valores positivos do mundo moderno, a sua moralidade específica.
Partamos da observação de alguns factos. A nossa sociedade tem muitos valores reconhecidos, partilhados, não discutidos. Considera negativamente a violência em todas as suas formas. A nossa sociedade eliminou as formas mais brutais de abuso. Eliminou o duelo, as vinganças privadas. Hoje, a pouco e pouco, está a eliminar os focos de guerra.
Combateu a doença e as dores físicas e mentais. Defendeu as crianças, os velhos, os doentes, protegendo-os com uma rede de direitos. Combate os preconceitos raciais, as discriminações étnicas. É certo que estas coisas ainda existem, mas são condenadas e combatidas como nunca o foram no passado. Também não é verdade que não sintamos o dever. Sentimos como drama e dever a pobreza do Terceiro Mundo. Sabemos que é nosso dever acabar com a miséria, com a fome, com os desgastes provocados pelas doenças.
Sabemos que é nosso dever dirigir o progresso técnico para um equilíbrio ecológico que garanta a vida às gerações futuras. Não nos sentimos, de facto, para além do bem e do mal. Talvez sejamos hipócritas, mas damo-nos conta de que os desastres sociais e naturais são o produto do nosso egoísmo individual e coletivo.
Francesco Alberoni e Salvatore Veca, O Altruísmo e a Moral,
5.ª ed., Venda Nova, Bertrand, 2000, pp. 9-13 (adaptado).
NOTAS
bolsa (linha 5) – bolsa de valores; instituição onde são realizados negócios relativos à compra e venda de títulos de crédito, ações, fundos públicos, etc.
laicos (linha 10) – que não são dependentes de qualquer confissão religiosa.
sacro (linha 6) – sagrado.
QUESTÃO 02
(IAVE 2018) Na opinião de muitos pensadores, o «pensamento progressista» (linha 10), entre outros aspetos,
(A) falha por não discriminar entre o certo e o errado.
(B) incute ideias que ultrapassam a noção de bem-estar.
(C) insurge-se contra a criação de metas e de crenças.
(D) adquire relevo ao não dissociar fanatismo de intolerância.
QUESTÃO ANTERIOR:
- (IAVE 2018) No primeiro parágrafo do texto, os autores evidenciam a ideia de que, nas sociedades atuais,
SOLUÇÃO:
(A) falha por não discriminar entre o certo e o errado.
«falha por não discriminar entre o certo e o errado» porque, como os autores acrescentam imediatamente a seguir, «mas como que despojado de valores» (os do Bem e os do Mal, os do que está certo e os do que está errado).
PRÓXIMA QUESTÃO:
- (IAVE 2018) No terceiro parágrafo do texto, os autores recorrem a um conjunto de exemplos para mostrar que
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Provas Exame Nacional de Portugal 2018 (1ª e 2ª Fase) com Soluções
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