Provas Exame Nacional de Portugal 2018 (1ª e 2ª Fase) com Soluções (EXAME FINAL NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO) VERSÃO 1 1ª FASE ...
Provas Exame Nacional de Portugal 2018 (1ª e 2ª Fase) com Soluções
(EXAME FINAL NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO)
VERSÃO 1
1ª FASE
PARTE A
Leia o poema.
Screvo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
Fernando Pessoa, Mensagem, edição de Fernando Cabral Martins,
Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, pp. 81-82.
QUESTÃO 01
(IAVE 2018) Caracterize o estado de alma do sujeito poético, expresso nos seis primeiros versos.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 02
(IAVE 2018) Justifique o recurso simultâneo à anáfora e à frase interrogativa a partir do sétimo verso do poema.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 03
(IAVE 2018) Explique, com base nas duas últimas estrofes, por que razão o sujeito poético pode ser considerado um profeta.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 04
(IAVE 2018) Identifique duas características do discurso lírico de Mensagem presentes no poema e transcreva um exemplo significativo para cada uma delas.
SOLUÇÃO.
PARTE B
Leia o texto.
MADALENA
(falando ao bastidor)
Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o bergantim; e quando desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (Vem para a cena.) Não há vento e o dia está lindo. Ao menos não tenho sustos com a viagem. Mas a volta… quem sabe? o tempo muda tão depressa…
JORGE
Não, hoje não tem perigo.
MADALENA
Hoje... hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado... que ainda temo que não acabe sem muito grande desgraça... É um dia fatal para mim: faz hoje anos que… que casei a primeira vez; faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião; faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.
JORGE
Pois contais essa entre as infelicidades de vossa vida?
MADALENA
Conto. Este amor — que hoje está santificado e bendito no Céu, porque Manuel de Sousa é meu marido — começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi… e quando o vi — hoje, hoje... foi em tal dia como hoje! — D. João de Portugal ainda era vivo. O pecado estava-me no coração; a boca não o disse... os olhos não sei o que fizeram; mas dentro da alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante... já não guardava a meu marido, a meu bom... a meu generoso marido... senão a grosseira fidelidade que uma mulher bem nascida quase que mais deve a si do que a seu esposo. — Permitiu Deus… quem sabe se para me tentar?... que naquela funesta batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse também D. João…
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, edição de Maria João Brilhante,
Lisboa, Comunicação, 1982, pp. 168-169.
QUESTÃO 05
(IAVE 2018) Explique em que medida a afirmação «o tempo muda tão depressa...» (linhas 5 e 6), proferida por Madalena, pode constituir um presságio de tragédia.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 06
(IAVE 2018) Ao longo do excerto, Madalena repete oito vezes a palavra «hoje».
Justifique os sentimentos manifestados por Madalena na sua última fala e relacione-os com a repetição dessa palavra.
SOLUÇÃO.
PARTE C
QUESTÃO 07
(IAVE 2018) A figura do herói está presente em muitas obras estudadas ao longo do ensino secundário, embora a sua construção possa depender de diversos fatores.
Escreva uma breve exposição na qual distinga o herói em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do herói em Mensagem, de Fernando Pessoa.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite, para cada uma das obras, uma característica que permita distinguir o herói em Os Lusíadas do herói em Mensagem, fundamentando as características apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das obras;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
SOLUÇÃO.
GRUPO II
Leia o texto. Se necessário, consulte a nota.
A intraduzibilidade de um termo é normal. Acontece constantemente. Cada língua divide a seu modo a realidade em parcelas que nomeia, e elas não se ajustam inteiramente ao recorte das parcelas do real elaborado noutras línguas. Temos maçã e pero, enquanto em inglês há só apple. Os anglo-americanos não se preocupavam com a distinção, para portugueses mais que óbvia. […] Por outro lado, para nós basta-nos o verbo «esperar», enquanto os ingleses o subdividem em hope, expect e wait. Mas ninguém em Portugal espera menos só por não ter acesso a essas distinções vocabulares, como ninguém confunde esperar o autocarro com esperar um bebé, ou esperar uma vida melhor para os filhos. […]
A grande diferença é cultural. Se calhar os portugueses, por razões históricas diversas, tiveram inúmeras oportunidades para sofrer de saudades, a começar com as ausências prolongadas dos navegadores a partir de Quatrocentos. Mas não podemos afirmar isso ao de leve, sem estabelecer comparações: os espanhóis, por exemplo, dispersaram-se igualmente pelo Globo e não criaram um termo equivalente com tanto peso. Os ingleses, um século e tanto depois, espalharam-se também pelos mares e continentes, aliás como os holandeses, e nenhum desses povos cunhou uma palavra única para expressar os sentimentos dos ausentes da pátria quando dos seus se lembravam, ou destes quando sentiam a falta dos embarcadiços.
Quer dizer: são as culturas que criam os termos, os mantêm e desenvolvem, vá lá alguém saber exatamente porquê. Todavia, não é a língua portuguesa que é mais saudosa que as outras, mas os portugueses que, por qualquer razão, insistem mais nesse sentimento. […] Assim, o termo ganhou uma extensão invulgar que as metáforas ainda alargaram mais.
Ora, em semântica, é regra fundamental que o significado é o uso. Dito de outro modo: para se saber o que significa uma palavra ou uma expressão, analisa-se o contexto em que é usada. E, santo Deus!, quão vastos são os contextos de «saudade» na nossa cultura. Usa-a o fado em letras sobre amores destroçados que recordam momentos de idílio em comum; usa-a um filho que chora a morte da mãe; como a usa um emigrante em carta para a família, ou um adulto revivendo os doces momentos da infância. […]
É, pois, nessa polissemia desbragada do termo em tão variadas circunstâncias que ele adquire cargas semânticas cada vez mais intraduzíveis, porque em nenhuma outra língua um termo semelhante foi tão frequentemente utilizado para cobrir tão diverso número de situações.
Nada disto envolve qualquer magia; está-se apenas em presença de uma impossibilidade linguística de resumir tanta diversidade de usos e encontrar um equivalente em uma só palavra noutra língua. Em parte porque os portugueses poderão ser mais sentimentais (saudosos) do que outros povos (é possível), mas sobretudo porque tradicionalmente deram largas à criatividade no uso do termo, sobretudo porque os poetas, mestres na liberdade com as palavras, lhe alargaram exponencialmente o sentido.
Onésimo Teotónio Almeida, A Obsessão da Portugalidade,
Lisboa, Quetzal Editores, 2017, pp. 223-226.
NOTA
desbragada (linha 27) – descomedida; excessiva; desenfreada.
QUESTÃO 01
(IAVE 2018) De acordo com o primeiro parágrafo do texto, a intraduzibilidade de um termo decorre do facto de
(A) os vocábulos evoluírem semanticamente de forma distinta em cada idioma.
(B) as línguas integrarem expressões idiomáticas bastante complexas.
(C) cada língua organizar e nomear a realidade de modo diferente.
(D) cada povo valorizar aspetos discrepantes da realidade.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 02
(IAVE 2018) No segundo parágrafo, o autor estabelece uma comparação entre povos, com a intenção de
(A) distinguir experiências similares que foram vividas por populações de países europeus.
(B) comprovar que a raiz da palavra «saudade» tem origem nas ausências dos navegadores.
(C) exemplificar as diversas situações que criaram a necessidade do termo «saudade».
(D) demonstrar que as palavras são determinadas pela especificidade cultural de cada povo.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 03
(IAVE 2018) Ao utilizar a expressão «polissemia desbragada» (linha 27), o autor pretende evidenciar
(A) a amplitude do campo semântico da palavra «saudade».
(B) a longa tradição poética sobre a temática da «saudade».
(C) o sentimentalismo excessivo do povo português.
(D) o saudosismo característico da língua portuguesa.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 04
(IAVE 2018) As expressões «Quer dizer» (linha 17) e «Dito de outro modo» (linha 21), seguidas de dois pontos, introduzem, respetivamente, sequências textuais em que o autor
(A) apresenta um argumento novo e reforça as ideias anteriormente apresentadas.
(B) sintetiza o conteúdo do parágrafo e explica a ideia anteriormente expressa.
(C) fundamenta o seu ponto de vista e introduz novos argumentos.
(D) problematiza a ideia apresentada anteriormente e exemplifica o seu ponto de vista.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 05
(IAVE 2018) As formas verbais presentes em «A intraduzibilidade de um termo é normal.» (linha 1) e em «Assim, o termo ganhou uma extensão invulgar» (linha 20) têm, respetivamente, um valor aspetual
(A) genérico e perfetivo.
(B) iterativo e perfetivo.
(C) genérico e imperfetivo.
(D) iterativo e imperfetivo.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 06
(IAVE 2018) Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelo pronome relativo «que»
a) na linha 20;
b) na linha 24.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 07
(IAVE 2018) Classifique a oração sublinhada em «Ora, em semântica, é regra fundamental que o significado é o uso.» (linha 21).
SOLUÇÃO.
GRUPO III
QUESTÃO
«Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.»
Alexandre O’Neill, Poesias Completas, 4.ª ed., Lisboa,
Assírio & Alvim, 2005, p. 64.
«São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.»
Eugénio de Andrade, Antologia Breve, 6.ª ed., Porto,
Fundação Eugénio de Andrade, 1994, p. 35.
(IAVE 2018) Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre o poder das palavras nas relações humanas.
No seu texto:
– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2018/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
SOLUÇÃO.
2ª FASE
GRUPO I
PARTE A
Leia o poema.
Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a primavera
Aparecem as folhas
E com o outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indif’rença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.
Ricardo Reis, Poesia, edição de Manuela Parreira da Silva,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, p. 64.
QUESTÃO 01
(IAVE 2018) Compare a atitude do sujeito poético com a dos outros «humanos» (verso 13), tendo em conta a oposição simbólica entre «rosas» e «magnólias», por um lado, e «pátria», «glória» e «virtude», por outro lado (versos 1 a 3).
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 02
(IAVE 2018) Interprete o sentido da segunda estrofe, à luz da filosofia de vida de Ricardo Reis.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 03
(IAVE 2018) Explicite, com base no conteúdo dos versos 7 a 18, dois aspetos que evidenciem o modo como o sujeito poético perceciona a passagem do tempo.
SOLUÇÃO.
PARTE B
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
Outra cousa muito geral, que não tanto me desedifica, quanto me lastima em muitos de vós, é aquela tão notável ignorância e cegueira que em todas as viagens experimentam os que navegam para estas partes.
Toma um homem do mar um anzol, ata-lhe um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três pontas, lança-o por um cabo delgado até tocar na água, e em o vendo o peixe, arremete cego a ele e fica preso e boqueando, até que, assim suspenso no ar, ou lançado no convés, acaba de morrer.
Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira que esta? Enganados por um retalho de pano, perder a vida? Dir-me-eis que o mesmo fazem os homens.
Não vo-lo nego. Dá um exército batalha contra outro exército, metem-se os homens pelas pontas dos piques, dos chuços e das espadas, e porquê? Porque houve quem os engodou e lhes fez isca com dois retalhos de pano.
A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto e que mais facilmente engana os homens. E que faz a vaidade? Põe por isca nas pontas desses piques, desses chuços e dessas espadas dois retalhos de pano, ou branco, que se chama Hábito de Malta, ou verde, que se chama de Avis, ou vermelho, que chama de Cristo e de Santiago, e os homens por chegarem a passar esse retalho de pano ao peito, não reparam em tragar e engolir o ferro.
E depois disso que sucede? O mesmo que a vós. O que engoliu o ferro, ou ali, ou noutra ocasião ficou morto; e os mesmos retalhos de pano tornaram outra vez ao anzol para pescar outros.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos peixes) e Sermão da Sexagésima,
edição de Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 93-94.
NOTAS
chuços (linha 9) – paus armados com uma ponta de ferro.
desedifica (linha 1) – escandaliza; desmoraliza; desagrada.
engodou (linha 10) – enganou.
Hábito (linha 13) – traje usado por membros de ordens religiosas.
Malta, Avis, Cristo, Santiago (linhas 13 e 14) – ordens religiosas e militares.
piques (linha 9) – lanças terminadas em ponta aguçada.
QUESTÃO 04
(IAVE 2018) Relacione o comportamento dos peixes, descrito entre as linhas 3 e 6, com as interrogações retóricas presentes nas linhas 6 e 7.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 05
(IAVE 2018) Explique a crítica que é feita aos homens, incluindo os membros do clero, a partir da linha 7.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 06
(IAVE 2018) Transcreva:
a) a metáfora que, entre as linhas 3 e 6, exprime a ideia de falta de lucidez;
b) uma estrutura anafórica que, entre as linhas 12 e 15, imprime ritmo ao discurso.
SOLUÇÃO.
PARTE C
QUESTÃO 07
(IAVE 2018) Cesário Verde adota um olhar subjetivo e crítico sobre a cidade.
Escreva uma breve exposição sobre a representação da cidade na poesia de Cesário Verde.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual refira uma característica da cidade enquanto espaço físico e uma característica da cidade enquanto espaço humano, fundamentando as ideias apresentadas em, pelo menos, um exemplo significativo de cada uma das características;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
SOLUÇÃO.
GRUPO II
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.
No passado, os homens tinham certezas religiosas e morais. Toda a vida individual e social estava organizada em redor dessas crenças sagradas. Os seus símbolos de pedra, os monumentos religiosos, sobreviveram aos milénios, tal como as estátuas dos deuses e os livros de inspiração divina. A grande mudança teve lugar com a Revolução Industrial.
Então, a pouco e pouco, a banca, a bolsa, o arranha-céus de escritórios substituíram a catedral. Paralelamente à crise do sacro, difunde-se a recusa do conceito de pecado e, eventualmente, do conceito de culpa. Já não existem tábuas da lei absolutas e imutáveis, e muitos pensam, depois de Nietzsche, que os conceitos de bem e de mal se estão a desvanecer, tal como a ideia de demónio e de tentação.
Muitos pensadores laicos constatam que o pensamento progressista triunfa hoje, mas como que despojado de valores. Ensina a não ser fanático, a ser tolerante, racional, mas, ao fazê-lo, aceita um pouco de tudo, o consumismo, a superficialidade da moda, o vazio da televisão. Não consegue, sobretudo, fazer despontar nos indivíduos uma chama que vá além do mero bem-estar, um ideal que supere o horizonte de uma melhor distribuição dos rendimentos.
Não cria metas, não suscita crença. Não sabe fornecer critérios do bem e do mal, do justo e do injusto. Desta forma, tudo se reduz à opinião e à conveniência pessoais. Isto é o que os filósofos, os sociólogos e os observadores críticos continuam a dizer do nosso mundo. E não restam dúvidas de que, em boa medida, as suas observações têm fundamento. Mas, em nosso entender, não tomam em consideração os valores positivos do mundo moderno, a sua moralidade específica.
Partamos da observação de alguns factos. A nossa sociedade tem muitos valores reconhecidos, partilhados, não discutidos. Considera negativamente a violência em todas as suas formas. A nossa sociedade eliminou as formas mais brutais de abuso. Eliminou o duelo, as vinganças privadas. Hoje, a pouco e pouco, está a eliminar os focos de guerra.
Combateu a doença e as dores físicas e mentais. Defendeu as crianças, os velhos, os doentes, protegendo-os com uma rede de direitos. Combate os preconceitos raciais, as discriminações étnicas. É certo que estas coisas ainda existem, mas são condenadas e combatidas como nunca o foram no passado. Também não é verdade que não sintamos o dever. Sentimos como drama e dever a pobreza do Terceiro Mundo. Sabemos que é nosso dever acabar com a miséria, com a fome, com os desgastes provocados pelas doenças.
Sabemos que é nosso dever dirigir o progresso técnico para um equilíbrio ecológico que garanta a vida às gerações futuras. Não nos sentimos, de facto, para além do bem e do mal. Talvez sejamos hipócritas, mas damo-nos conta de que os desastres sociais e naturais são o produto do nosso egoísmo individual e coletivo.
Francesco Alberoni e Salvatore Veca, O Altruísmo e a Moral,
5.ª ed., Venda Nova, Bertrand, 2000, pp. 9-13 (adaptado).
NOTAS
bolsa (linha 5) – bolsa de valores; instituição onde são realizados negócios relativos à compra e venda de títulos de crédito, ações, fundos públicos, etc.
laicos (linha 10) – que não são dependentes de qualquer confissão religiosa.
sacro (linha 6) – sagrado.
QUESTÃO 01
(IAVE 2018) No primeiro parágrafo do texto, os autores evidenciam a ideia de que, nas sociedades atuais,
(A) as crenças religiosas continuam a organizar toda a vida humana.
(B) os homens são dominados pelas ideias de culpa e de pecado.
(C) os valores materiais se sobrepuseram aos valores espirituais.
(D) os seres humanos perderam a noção do bem e do mal.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 02
(IAVE 2018) Na opinião de muitos pensadores, o «pensamento progressista» (linha 10), entre outros aspetos,
(A) falha por não discriminar entre o certo e o errado.
(B) incute ideias que ultrapassam a noção de bem-estar.
(C) insurge-se contra a criação de metas e de crenças.
(D) adquire relevo ao não dissociar fanatismo de intolerância.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 03
(IAVE 2018) No terceiro parágrafo do texto, os autores recorrem a um conjunto de exemplos para mostrar que
(A) os valores de natureza ético-moral desapareceram da sociedade atual.
(B) a sociedade atual conseguiu eliminar os graves problemas do passado.
(C) a sociedade atual se rege por valores que dignificam a pessoa humana.
(D) os homens da sociedade atual têm plena consciência da sua hipocrisia.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 04
(IAVE 2018) No excerto compreendido entre «Considera negativamente» (linha 22) e «de abuso» (linha 23), as formas verbais têm, respetivamente, um valor aspetual
(A) genérico e iterativo.
(B) perfetivo e iterativo.
(C) imperfetivo e genérico.
(D) genérico e perfetivo.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 05
(IAVE 2018) As frases «E não restam dúvidas de que, em boa medida, as suas observações têm fundamento.» (linha 18) e «Talvez sejamos hipócritas» (linha 32) exprimem a modalidade epistémica
(A) com valor de probabilidade, no primeiro caso, e com valor de certeza, no segundo caso.
(B) com valor de probabilidade, em ambos os casos.
(C) com valor de certeza, em ambos os casos.
(D) com valor de certeza, no primeiro caso, e com valor de probabilidade, no segundo caso.
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 06
(IAVE 2018) Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:
a) «dos rendimentos» (linhas 14 e 15);
b) «que estas coisas ainda existem» (linha 27).
SOLUÇÃO.
QUESTÃO 07
(IAVE 2018) Indique o processo de coesão textual assegurado pelas expressões «No passado» (linha 1), «a pouco e pouco» (linha 5), «Já» (linha 7), «Hoje, a pouco e pouco» (linha 24) e «ainda» (linha 27).
SOLUÇÃO.
GRUPO III
QUESTÃO
(IAVE 2018) Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre o impacto do progresso técnico na qualidade de vida do ser humano, no futuro.
No seu texto:
– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos, cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2018/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
SOLUÇÃO.
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