Questões de Língua Portuguesa, Literatura e Interpretação de Textos da FGV-SP 2020 com Gabarito Questões de: - Matemática Aplicada -...
Questões de Língua Portuguesa, Literatura e Interpretação de Textos da FGV-SP 2020 com Gabarito
Questões de:
- Matemática Aplicada
- Matemática
-
- Inglês
- Humanas
Língua Portuguesa, Literatura e Interpretação de Textos
Texto para as questões 16 e 17.
Panc da Periferia
Folhas e ervas antes consideradas pragas têm despertado o interesse
de pesquisadores, médicos e chefes de cozinha
Se não fosse plantado por ninguém, se não desse frutos ou flores ornamentais, no passado se chamava mato. Hoje ervas e folhas antes tidas como pragas tornaram-se valiosas para médicos, chefes de cozinha e cultivadores de plantas. As chamadas plantas alimentícias não convencionais (PANC) estão se tornando moda no Brasil. Algumas espécies têm um valor nutricional suficiente para suprir as demandas diárias de um adulto e são tão ricas quanto o feijão e o leite.
No dia a dia do brasileiro, a cultura PANC ainda não pegou. A demanda do varejo é baixa e o uso no circuito de restaurantes não chega a ser uma tendência nacional, apesar de alguns chefs renomados já terem começado a lançar mão dessas plantas para incrementar suas receitas.
Nicollas Witzel, Época, 24.09.2018. Adaptado.
QUESTÃO 16
(FGV-SP 2020) Analise as seguintes afirmações sobre o título dessa matéria jornalística, possivelmente inspirado em uma conhecida canção popular, considerando o restante do texto:
I. Revela, com o uso da palavra “periferia” e talvez involuntariamente, uma atitude preconceituosa de seu redator.
II. Pode ser considerado um trocadilho em relação a uma palavra inglesa que designa um certo movimento de contracultura.
III. Baseia-se num acrônimo (sigla) que alude a apenas uma das propriedades das referidas plantas.
Está correto o que se afirma em
A) II, apenas.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) III, apenas.
E) I, II e III.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 17
(FGV-SP 2020) O prefixo de origem grega que entra na formação da palavra “periferia”, e de outras como “perímetro” e “perífrase”, tem o mesmo sentido que o prefixo de origem latina que forma a palavra
A) transatlântico.
B) circum-navegação.
C) ambivalente.
D) península.
E) infra-assinado.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
Texto para as questões 18 e 19.
Sempre imaginei que poderia escrever uma coluna de economia usando um jargão falso, com pseudônimo. Não sei quanto tempo duraria até ser descoberto e desmascarado, mas acho que não seria pouco. Não estou dizendo que quem escreve sobre economia não sabe o que está escrevendo, ou se aproveita da ignorância generalizada para enganar.
Estou dizendo que a análise econômica é uma arte tão imprecisa que, mesmo desconfiando do embuste, a maioria hesitaria antes de denunciá-lo. Quem garantiria que o meu enfoque diferente – minha defesa de um overspread corretivo sobre a base de pagamentos, por exemplo – não era uma novidade que mereceria estudo, já que ninguém parece mesmo saber o que é certo?
Luís Fernando Veríssimo, Comédias para se ler na escola. Adaptado.
QUESTÃO 18
(FGV-SP 2020) Pelo contexto, pode-se concluir que a expressão “overspread” constitui
A) um exemplo do jargão a que se refere o autor.
B) uma demonstração de erudição por parte do cronista.
C) uma abordagem original da ciência econômica.
D) uma prova de que economia é arte e não ciência.
E) uma ideia original que parecerá absurda para os leigos.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 19
(FGV-SP 2020) O trecho que expressa ideia de consequência em relação à afirmação que, no texto, o antecede é:
A) “que mereceria estudo”. (L. 9)
B) “já que ninguém parece mesmo saber o que é certo?”. (L. 10)
C) “mesmo desconfiando do embuste”. (L. 6)
D) “que, (...), a maioria hesitaria antes de denunciá-lo”. (L. 6)
E) “quanto tempo duraria até ser descoberto e desmascarado”. (L. 2)
GABARITO E RESOLUÇÃO.
Texto para as questões de 20 a 24.
CAPÍTULO I
ORIGEM, NASCIMENTO E BATIZADO
Era no tempo do rei. Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos¹-; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração).
Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo. Daí sua influência moral.
Mas tinham ainda outra influência, que é justamente a que falta aos de hoje: era a influência que derivava de suas condições físicas. Os meirinhos de hoje são homens como quaisquer outros; nada têm de imponentes, nem no seu semblante nem no seu trajar, confundem-se com qualquer procurador, escrevente de cartório ou contínuo de repartição. Os meirinhos desse belo tempo não, não se confundiam com ninguém; eram originais, eram tipos: nos seus semblantes transluzia um certo ar de majestade forense, seus olhares calculados e sagazes significavam chicana. Trajavam sisuda casaca preta, calção e meias da mesma cor, sapato afivelado, ao lado esquerdo aristocrático espadim, e na ilharga direita penduravam um círculo branco, cuja significação ignoramos, e coroavam tudo isto por um grave chapéu armado.
Colocado sob a importância vantajosa destas condições, o meirinho usava e abusava de sua posição. Era terrível quando, ao voltar uma esquina ou ao sair de manhã de sua casa, o cidadão esbarrava com uma daquelas solenes figuras que, desdobrando junto dele uma folha de papel, começava a lê-la em tom confidencial! Por mais que se fizesse não havia remédio em tais circunstâncias senão deixar escapar dos lábios o terrível - Dou-me por citado. -
Ninguém sabe que significação fatalíssima e cruel tinham estas poucas palavras! eram uma sentença de peregrinação eterna que se pronunciava contra si mesmo; queriam dizer que se começava uma longa e afadigosa viagem, cujo termo bem distante era a caixa da Relação, e durante a qual se tinha de pagar importe de passagem em um sem-número de pontos; o advogado, o procurador, o inquiridor, o escrivão, o juiz, inexoráveis Carontes², estavam à porta de mão estendida, e ninguém passava sem que lhes tivesse deixado, não um óbolo³, porém todo o conteúdo de suas algibeiras, e até a última parcela de sua paciência. Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias.
*Notas:
¹Meirinho: funcionário da justiça (semelhante ao atual oficial de justiça).
²Caronte: na mitologia grega, era o barqueiro que transportava para além dos rios Estige e Aqueronte as almas dos mortos.
³Óbolo: moeda com que as almas dos mortos pagavam os serviços do barqueiro Caronte.
QUESTÃO 20
(FGV-SP 2020) Observando-se a prosa do excerto, verifica-se que ela imita um estilo elevado, empertigado, que, no entanto, é ao mesmo tempo irônico e sarcástico, beirando o riso.
Essa conjugação de pseudosseriedade e de riso corresponde mais diretamente ao seguinte aspecto da obra:
A) a mistura recorrente da lei e da ordem com a ilegalidade e a desordem.
B) a presença majoritária de negros escravizados, entre as personagens que compõem a trama da narrativa.
C) a adesão simultânea das elites ao catolicismo e aos cultos afro-brasileiros.
D) a conjugação de aspectos urbanos e rurais no espaço em que se passa a história.
E) o aspecto caricato da corte portuguesa instalada no ambiente tropical do Brasil.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 21
(FGV-SP 2020) Um conhecido comentário a respeito das Memórias de um sargento de milícias afirma que a estrutura do livro é formada pela conjugação de duas “séries”: uma “série histórica”, na qual comparecem até mesmo pessoas reais, e uma “série mítica” ou “arquetípica”, da ordem dos contos da carochinha e do folclore, cujo caráter é sobretudo intemporal.
Entre os trechos do excerto, destacados abaixo, aquele em que a combinação dessas duas “séries” aparece de modo mais flagrante é o que está em:
A) “Os meirinhos desse belo tempo não, não se confundiam com ninguém”. (L. 18)
B) “Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei”. (L. 5)
C) “Era no tempo do rei”. (L. 1)
D) “– Dou-me por citado –“. (L. 30)
E) “Ninguém sabe que significação fatalíssima e cruel tinham estas poucas palavras”. (L. 30)
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 22
(FGV-SP 2020) Infere-se do texto que o aparato judiciário nele figurado, na medida em que seu acesso é condicionado à posse de recursos financeiros, está a serviço, primordialmente, de uma determinada camada social.
Guardadas todas as diferenças, juízo semelhante, referente a dispositivos jurídico-policiais – agora em chave abertamente crítica e de denúncia – terá forte presença, sobretudo, na obra
A) Iracema.
B) Capitães da Areia.
C) A hora e vez de Augusto Matraga.
D) Morte e vida severina.
E) A hora da estrela.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 23
(FGV-SP 2020) O único trecho em que o narrador se refere a seu tempo ou ao do rei com neutralidade, sem recorrer a termos pejorativos ou irônicos é:
A) “e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo” (L. 12).
B) “Dou-me por citado. - Ninguém sabe que significação fatalíssima e cruel tinham estas poucas palavras!” (L. 30).
C) “Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei” (L. 5)
D) “porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração)” (L. 3).
E) “Mas tinham ainda outra influência, que é justamente a que falta aos de hoje: era a influência que derivava de suas condições físicas.” (L. 13).
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 24
(FGV-SP 2020) Se, na frase “Por mais que se fizesse não havia remédio em tais circunstâncias” (L. 28), os tempos dos verbos forem alterados, a correlação temporal estará correta na seguinte proposta de reelaboração: “Por mais que se __________ não __________ remédio em tais circunstâncias”.
As lacunas devem ser preenchidas por
A) tem feito; há.
B) tivesse feito; teria havido.
C) tinha feito; houve.
D) fizer; terá havido.
E) tenha feito; houvera.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
Texto para as questões 25 e 26.
IV Selo de Minas
EVOCAÇÃO MARIANA
A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes.
Havia poucas flores. Eram flores de horta.
Sob a luz fraca, na sombra esculpida
(quais as imagens e quais os fiéis?)
ficávamos.
Do padre cansado o murmúrio de reza
subia às tábuas do forro,
batia no púlpito seco,
entranhava-se na onda, minúscula e forte, de incenso,
perdia-se.
Não, não se perdia…
Desatava-se do coro a música deliciosa
(que esperas ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas campinas do ar)
e dessa música surgiam meninas — a alvura mesma —
cantando.
De seu peso terrestre a nave libertada,
como do tempo atroz imunes nossas almas,
flutuávamos
no canto matinal, sobre a treva do vale.
Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.
QUESTÃO 25
(FGV-SP 2020) Com base na notável reiteração de determinados índices e características, verificável no texto, deduz-se que a experiência de libertação e de transcendência, vivenciada pelo eu lírico, tornou-se possível graças, sobretudo, ao fato de que
A) o ambiente dos eventos, em sua humildade, escapava às determinações do mundo das mercadorias e da alienação que o caracteriza.
B) a memória do poeta transportou-o para a cidade de sua infância mineira, levando-o a um reencontro do tempo perdido.
C) um conjunto de pulsões sexuais reprimidas foi subitamente libertado pela experiência mística da cerimônia.
D) o poeta repudiou qualquer interesse pelas diferenças econômicas e sociais que marcam a sociedade.
E) ele rejeitou a experiência sensível, produzida pelos sentidos corporais, para concentrar-se na pureza imaterial de seu próprio espírito.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 26
(FGV-SP 2020) O exemplo que NÃO corresponde ao recurso expressivo indicado é:
A) Inversão: “De seu peso terrestre a nave libertada”.
B) Elipse: “Os altares, humildes”.
C) Sinestesia: “Desatava-se do coro a música deliciosa”.
D) Metáfora: “ou depois da morte, nas campinas do ar”.
E) Eufemismo: “e dessa música surgiam meninas — a alvura mesma —".
GABARITO E RESOLUÇÃO.
Texto para as questões 27 e 28.
O RETIRANTE RESOLVE APRESSAR OS
PASSOS PARA CHEGAR LOGO AO RECIFE
— Nunca esperei muita coisa,
digo a Vossas Senhorias.
O que me fez retirar
não foi a grande cobiça;
o que apenas busquei
foi defender minha vida
da tal velhice que chega
antes de se inteirar trinta;
se na serra vivi vinte,
se alcancei lá tal medida,
o que pensei, retirando,
foi estendê-la um pouco ainda.
Mas não senti diferença
entre o Agreste e a Caatinga,
e entre a Caatinga e aqui a Mata
a diferença é a mais mínima.
Está apenas em que a terra
é por aqui mais macia;
está apenas no pavio,
ou melhor, na lamparina:
pois é igual o querosene
que em toda parte ilumina,
e quer nesta terra gorda
quer na serra, de caliça,
a vida arde sempre com
a mesma chama mortiça.
João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina.
QUESTÃO 27
(FGV-SP 2020) Considerando o excerto no contexto da obra e do fenômeno social nela figurado, verifica-se que o retirante não reconhece uma diferença efetiva entre os meios geográficos que vai atravessando, na medida em que, em todos eles,
A) fracassou a industrialização, mantendo-se as populações atreladas à produção artesanal.
B) são abundantes as provas de que o ser humano é egoísta e cruel por natureza, qualquer que seja o meio em que vive.
C) renova-se a consciência de que todo homem é mortal, o que o torna infeliz, onde quer que se encontre.
D) continua, o retirante, preso a um pensamento mágico, almejando soluções miraculosas para problemas reais.
E) reitera-se a mesma experiência da privação dos meios de produção e da exploração do trabalho.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 28
(FGV-SP 2020) Considere as seguintes afirmações sobre o excerto:
I. No início do texto, o pronome de tratamento “Vossas Senhorias” refere-se às autoridades civis, militares ou religiosas eventualmente presentes na apresentação teatral.
II. Na segunda estrofe, o eu lírico faz uso do recurso expressivo da alegoria (metáfora expandida).
III. No conjunto do texto, predomina o discurso de natureza argumentativa.
Está correto o que se afirma em
A) II, apenas.
B) I, apenas.
C) II e III, apenas.
D) III, apenas.
E) I, II e III.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 29
Ele se aproximou e com a voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:
- E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
- Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa, antes que ele mudasse de ideia.
- E se me permite, qual é mesmo a sua graça?
- Macabéa.
- Maca – o quê?
- Béa, foi obrigada a completar.
- Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.
Clarice Lispector, A hora da estrela.
(FGV-SP 2020) De acordo com estudiosos de A hora da estrela, muitos dos diálogos entre Macabéa e Olímpico, como o acima reproduzido, possuem, primordialmente, a dupla funcionalidade de produzir, ao mesmo tempo,
A) dramaticidade e sarcasmo.
B) choque e repulsa moral.
C) identificação e pena.
D) comicidade e crítica social.
E) tragicidade e estranhamento.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
QUESTÃO 30
(FGV-SP 2020) São numerosas, na literatura brasileira, as narrativas cujas personagens, fábulas e enredos são fundamentalmente constituídos pelo seu pertencimento a áreas e meios sociais nos quais o Estado é sobretudo ausente, a pressão da lei não se faz sentir e a ordem privada desempenha funções que, em princípio, caberiam ao poder público.
Antonio Candido. Adaptado.
Insere-se, de modo mais completo, nessa ordem de narrativas, a obra
A) Memórias póstumas de Brás Cubas.
B) O cortiço.
C) Capitães da Areia.
D) Morte e vida severina.
E) A hora e vez de Augusto Matraga.
GABARITO E RESOLUÇÃO.
COMENTÁRIOS