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Questões UPE 2020 Português com Gabarito
Questões de:
-
- Matemática
- Física
- Inglês
- Espanhol
- Filosofia
- Biologia
- Química
- História
- Geografia
- Sociologia
LINGUA PORTUGUESA
O Texto 1 serve de base às questões de 01 a 05.
Texto 1
(1) Juventude, cidadania e participação: que papo é esse? Pode ser um papo furado, que não leve a nada. Pode ser que não renda, que seja insuficiente em termos de contribuição à democracia, de questionar padrões da cultura brasileira. Por outro lado, este papo pode render muito. Pode render, sim, com muitos desafios. Não é nada automático, nada mágico. Pode ser um importante elemento construtor de democracia, de uma sociedade mais justa de direitos.
(2) Acho que essa pergunta ―que papo é esse?‖ poderia ser substituída por ―que onda é essa?‖, ―que moda é essa?‖. Por que está na moda falar em políticas públicas para a juventude? Por que se inventou agora que a juventude é depositária de todas as possibilidades? Por que agora a juventude aparece? Infelizmente, não é por uma coisa boa. Poderia ser por reconhecimento. Mas não é. A questão da juventude vem para a cena pública quando ela passa a ser o segmento mais vulnerável frente às mudanças sociais que acontecem no mundo de hoje.
(3) Quando a gente soma, em especial no Brasil, uma história de desigualdades sociais e de exclusão com uma realidade mundial de mudanças de relações de produção e de exclusão de grupos sociais, a juventude torna-se o segmento mais atingido. É por isso que a juventude aparece, atualmente, como um ator social, enfrentando diversos desafios da sociedade contemporânea. A grande questão é que o jovem dos dias atuais tem medo de sobrar. A sua inserção produtiva não está garantida.
(4) Há quem possa dizer que sempre foi assim. Sempre existiu o jovem pobre e o jovem rico, o jovem incluído e o excluído. Sim, isto é verdade. Mas acontece que tínhamos um sistema de produção que garantia uma reprodução: o filho do camponês continuaria o trabalho do pai, da mesma forma que o filho do operário. Era injusto porque o jovem não tinha possibilidade de ascender socialmente, mas havia a possibilidade de pensar o futuro a partir de um lugar social. Aqueles que estudavam, que passavam no funil, tinham a garantia de que poderiam exercer a sua profissão ao final dos estudos. Com a mudança do mundo do trabalho, cada vez mais restritivo e mutante, os jovens foram e são atingidos. Todos os jovens passaram a ter medo do futuro. Neste cenário, temos que ver todas as diferentes juventudes e suas questões sociais e raciais, suas questões de gênero e opções/orientações sexuais. Os mais vulneráveis têm mais medo de sobrar e são os mais atingidos. Estamos diante de uma geração que é atingida na possibilidade de pensar o futuro a partir de mudanças estruturais da sociedade. [...]
(5) As políticas públicas têm que somar estas duas coisas: os direitos universais (o acesso à educação, ao trabalho etc.) e os específicos. As políticas públicas têm que pensar então numa nova interface entre escolaridade e preparação para o mundo do trabalho. O Estado tem que ter o compromisso de fazer as suas políticas macro, mas tem que fazer isto com a sociedade civil, para que cada um participe, transformando a política de juventude numa política de Estado, não de Governo. Queremos colocar duas palavras na roda: direitos e oportunidades.
(6) Mas para que isso aconteça e para que este papo seja produtivo e dê resultado positivo, dependemos muito da ação de levar para a sociedade a perspectiva geracional. Uma questão complicada. A questão da juventude é uma questão marcada por uma faixa etária específica. Portanto, ela não pode ser pensada sem levar em conta a relação intergeracional. Os jovens e os adultos se colocam em todos os espaços sociais. É preciso que os jovens consigam aprender com os adultos valores da cidadania que são trazidos pela história social do país. Os jovens não podem achar que estão começando do zero. É preciso promover um diálogo intergeracional, um diálogo que traz valores. Os jovens têm que escutar os adultos e vice-versa, o que provocará um aprendizado mútuo. Só sabe o que é ser jovem hoje quem é jovem. Os adultos de hoje foram jovens em outro tempo histórico.
(7) É necessário, também, que haja um diálogo intrageracional. Esse é o maior desafio, porque as tribos existem, os grupos são heterogêneos e têm objetivos diferentes. Precisamos encontrar o que une esta geração e a partir daí desenvolver políticas públicas. Claro que as diferenças continuarão existindo.
(8) Os jovens estarão no mesmo jogo dos adultos (que às vezes não é um jogo muito bom) se eles se fragmentarem completamente, não perceberem o que há de comum entre eles a partir dos desafios e dos direitos de sua geração. Estabelecer os diálogos é difícil. Não é fácil porque muitas vezes os jovens reproduzem os preconceitos e os ‗faccionalismos‘ dos adultos. Esta geração tem uma chance de inovar na cultura política, inovar a partir de seus interesses e de uma forma que faça até mesmo que os adultos aprendam.
Regina Novaes. Disponível em:
Acesso em: 16/08/2019. Adaptado.
QUESTÃO 01
(UPE 2020) Considerando que nossos textos (falados e escritos) seguem uma norma e que temos muitas e diferentes maneiras de falar e escrever, acerca do Texto 1, é CORRETO afirmar que
a) há, nele, marcas evidentes de que sua autora pretendeu afastar-se da norma brasileira considerada culta e de que, ao optar por um nível linguístico extremamente informal, desvia-se propositadamente das normas gramaticais tradicionalmente reconhecidas como corretas.
b) ele está organizado em consonância com a norma culta da língua e percebe-se, principalmente nos dois parágrafos introdutórios, que a autora opta por empregar itens lexicais, como "papo", "papo furado" e "onda", que aproximam a sua linguagem da do seu público-alvo.
c) encontram-se, nele, diversos termos e expressões técnicas ('intrageracional'; 'faccionalismos'), os quais demonstram que sua autora pretendeu dialogar com um público muito especializado e, por isso, optou pelo rebuscamento da linguagem e pelo alto nível de formalidade do texto.
d) com o propósito de alcançar seu público-alvo, majoritariamente jovem, sua autora opta pela informalidade na linguagem, a qual se revela por escolhas lexicais muito populares, por uma organização sintática muito simplificada e pela superficialidade da argumentação.
e) seu nível de linguagem e as ideias apresentadas são reveladores dos preconceitos da autora em relação a questões de gênero, como no trecho: "Neste cenário, temos que ver todas as diferentes juventudes e suas questões sociais e raciais, suas questões de gênero e opções/orientações sexuais."(4º§)
GABARITO.
QUESTÃO 02
(UPE 2020) Segundo a autora do Texto 1, "a grande questão é que o jovem dos dias atuais tem medo de sobrar". Em outras palavras, o jovem da atualidade teme
a) não encontrar um(a) companheiro(a).
b) perder todos os seus vínculos socioafetivos.
c) não ter sua identidade de gênero reconhecida.
d) ter que se corromper para ascender socialmente.
e) não conseguir entrar no mundo do trabalho.
GABARITO.
QUESTÃO 03
(UPE 2020) Analise se, nos trechos apresentados a seguir, evidenciam-se as relações lógico-semânticas indicadas entre parênteses.
1) "A questão da juventude vem para a cena pública quando ela passa a ser o segmento mais vulnerável frente às mudanças sociais que acontecem no mundo de hoje." (TEMPO)
2) "Com a mudança do mundo do trabalho, cada vez mais restritivo e mutante, os jovens foram e são atingidos." (CAUSALIDADE)
3) "O Estado tem que ter o compromisso de fazer as suas políticas macro, mas tem que fazer isto com a sociedade civil, para que cada um participe, transformando a política de juventude numa política de Estado, não de Governo." (FINALIDADE)
4) "A questão da juventude é uma questão marcada por uma faixa etária específica. Portanto, ela não pode ser pensada sem levar em conta a relação intergeracional." (CONCLUSÃO)
Estão CORRETAS:
a) 1, 2 e 3, apenas.
b) 1, 2 e 4, apenas.
c) 1, 3 e 4, apenas.
d) 2, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
GABARITO.
QUESTÃO 04
(UPE 2020) No que se refere ao emprego de algumas formas verbais no Texto 1, assinale a alternativa CORRETA.
a) Com a locução verbal empregada no trecho: "Por outro lado, este papo pode render muito." (1º §), a autora sinaliza que está percebendo a ação de 'render' como uma possibilidade.
b) No trecho: "A questão da juventude vem para a cena pública quando ela passa a ser o segmento mais vulnerável (...)" (2º §), a forma verbal no presente foi empregada para indicar uma ação que já aconteceu.
c) No trecho: "Com a mudança do mundo do trabalho, cada vez mais restritivo e mutante, os jovens foram e são atingidos." (4º §), não apenas verbos diferentes, mas também tempos e modos verbais diferentes são empregados para expressar as ideias da autora.
d) Com a afirmação de que "As políticas públicas têm que pensar então numa nova interface entre escolaridade e preparação para o mundo do trabalho." (5º §), a autora expressa a ideia de que a ação de 'pensar' já está em curso.
e) É o emprego das formas verbais no modo indicativo que confere ao segmento destacado em "Esta geração tem uma chance de inovar na cultura política, inovar a partir de seus interesses e de uma forma que faça até mesmo que os adultos aprendam." (8º §) seu tom categórico.
GABARITO.
QUESTÃO 05
(UPE 2020) Acerca de aspectos gramaticais presentes no Texto 1, analise as afirmações a seguir.
1. Os termos "intergeracional" (6º §) e "intrageracional" (7º §) têm, no texto, o mesmo sentido, já que seus prefixos ('inter' e 'intra') têm equivalência semântica.
2. No trecho: "Sempre existiu o jovem pobre e o jovem rico (...)." (4º §), o verbo 'existir', que está anteposto, foi empregado no singular, em concordância com 'o jovem pobre'. A forma verbal no plural ('existiram') seria igualmente aceita pela norma culta da língua e, neste caso, concordaria com o sujeito composto.
3. Releia o trecho: "Poderia ser por reconhecimento. Mas não é." (2º §) Nesse trecho, o ponto colocado após 'reconhecimento' imprime uma pausa mais longa antes do trecho seguinte e confere destaque a "Mas não é.".
4. No 6º §, lemos: "Os jovens têm que escutar os adultos e vice-versa." Podemos ver que a expressão destacada manteve o hífen após a última reforma ortográfica. O hífen também se manteve em expressões como 'auto-retrato' e 'ultra-sonografia'.
Estão CORRETAS:
a) 1 e 4, apenas.
b) 2 e 4, apenas.
c) 2 e 3, apenas.
d) 1, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
GABARITO.
Os Textos 2, 3, 4 e 5 servem de base às questões 06 e 07.
Texto 2
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Quadrilha. Nova reunião: 23 livros de poesia.
1. ed. São Paulo: Companhia das letras: 2015. p. 28.
Texto 3
Disponível em: http://www.artemaior.com.br/anuario2014/perfil.do?codigo=598
Acesso em: 20/06/2019.
Texto 4
Acesso em: 20/06/2019.
Texto 5
Disponível em: http://agenciaabracadabra.blogspot.com/2009/11/blog-post_27.html.
Acesso em 20/06/2019.
QUESTÃO 06
(UPE 2020) Considerando o fenômeno da intertextualidade e com base nas relações estabelecidas entre os Textos 2, 3, 4 e 5, assinale a alternativa CORRETA.
a) O Texto 2 perde a sua singularidade literária ao representar o tema "quadrilha" de forma simples e com linguagem denotativa. Trata-se de um texto caracterizado por traços narrativos e pelo predomínio da função referencial da linguagem.
b) As relações intertextuais podem ser evidenciadas entre textos de diferentes gêneros, como se pode notar no diálogo entre o Texto 2 e os Textos 3, 4 e 5. O Texto 4 imprime um tom humorístico ao apresentar informações sobre o destino das personagens.
c) Ao manter relação intertextual explícita com o poema Quadrilha, o Texto 4 configura-se como literário, pois as escolhas linguísticas da tirinha são praticamente uma réplica do Texto 2. A natureza literária do Texto 4 está presente na retomada poética da narrativa construída no poema de Drummond.
d) O poema Quadrilha (Texto 2) mantém relação intertextual implícita com a pintura (Texto 3). Assim como ocorre na quadrilha junina, os descompassos amorosos são percebidos na tela de Pedro Souza e no poema de Drummond. O Texto 2 revela traços narrativos e uma visão cômica sobre os destinos das personagens.
e) A intertextualidade é um fenômeno evidenciado apenas no campo da arte literária, quando ocorrem relações entre textos literários com aproximações na forma e no conteúdo. Os Textos 2, 3, 4 e 5 ilustram um exemplo de intertextualidade pelas características literárias que apresentam.
GABARITO.
QUESTÃO 07
(UPE 2020) Acerca da organização global do Texto 2 e de sua relação com o Texto 5, é CORRETO afirmar que
a) cada um dos textos se organiza com diferentes configurações, mas eles têm em comum a proposta temática e as intenções comunicativas.
b) o título atribuído ao poema está igualmente adequado ao anúncio publicitário, representando a síntese do conteúdo global de ambos os textos.
c) por estarem numa relação intertextual explícita, ambos os textos têm um modo de organização muito semelhante, com organização paragráfica e normas gráficas de apresentação similares.
d) no poema (Texto 2), a regularidade estrutural que se observa nos três primeiros versos é desfeita nos versos seguintes, e essa mudança contribui para os sentidos que o autor quer transmitir.
e) no anúncio, o pronome presente na pergunta "sabe o que é isso?" leva o leitor a recuperar a literariedade do poema de Drummond.
GABARITO.
Os Textos 6, 7 e 8 servem de base às questões 08, 09 e 10.
Texto 6
Procura da Poesia
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,
esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
[...]
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço [...].
ANDRADE, Carlos Drummond de. Procura da Poesia. Excertos.
Disponível em: https://wp.ufpel.edu.br/aulusmm/2016/10/04/procura
-da-poesia-carlos-drummond-de-andrade/ Acesso em: 20/06/2019.
Texto 7
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
MEIRELES, Cecília. Retrato.
Disponível em: https://www.revistabula.com/7668-os-
melhores-poemasde-cecilia-meireles/ Acesso em: 20/06/2019.
Texto 8
Autorretrato, de Vincent Van Gogh (1888).
Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2018/
07/baixequase-mil-obras-de-van-gogh-gratuitamente.html Acesso em: 20/06/2019.
QUESTÃO 08
(UPE 2020) Há várias funções da linguagem que se interpenetram e dialogam quando lemos e produzimos textos diversos. Para cada elemento do processo de comunicação (emissor, mensagem, receptor, canal, código, contexto), existe uma função da linguagem correspondente. Acerca desse tema, considere as afirmativas a seguir.
1) O Texto 6 apresenta mais de uma função da linguagem. Trata-se de um poema metalinguístico, uma vez que evidencia a construção do fazer poético. Além da função poética, também revela a função conativa quando estabelece diálogo com o receptor: “não faças”, “não cantes”, “penetra”, “convive”, “espera”, “não forces”, “não colhas”.
2) A obra Autorretrato, de Vincent Van Gogh (Texto 8), é um exemplo de metalinguagem na pintura. A obra aborda como tema a própria pintura com a imagem do pintor diante da tela e dos pincéis. Os Textos 6 e 8 são metalinguísticos, pois destacam o próprio código utilizado.
3) Por meio da linguagem poética, o Texto 7 é um exemplo do gênero lírico e expressa os sentimentos do "eu lírico", sugerindo a transitoriedade da vida. O poema revela a função emotiva da linguagem, com ênfase nos sentimentos do emissor da mensagem.
4) A função referencial da linguagem está presente nos Textos 6, 7 e 8, e o sentido denotativo é priorizado na organização das mensagens propostas.
Estão CORRETAS, apenas:
a) 1 e 2.
b) 2 e 4.
c) 2 e 3.
d) 1, 2 e 3.
e) 3 e 4.
GABARITO.
QUESTÃO 09
(UPE 2020) A compreensão do Texto 7 nos leva a afirmar que nele o eu lírico reflete principalmente sobre a
a) perda da felicidade.
b) dureza da solidão.
c) passagem do tempo.
d) importância da vaidade.
e) iminência da morte.
GABARITO.
QUESTÃO 10
(UPE 2020) No que se refere a alguns recursos lexicais e gramaticais do Texto 7, analise as proposições a seguir.
1. A repetição do pronome pessoal ‗eu‘, ao longo do texto, é um recurso gramatical que contribui para manter a subjetividade e reforçar a reflexão introspectiva que nele se faz.
2. A pergunta retórica com que o texto é finalizado funciona como uma síntese da ideia de perda que se apresenta ao longo do poema.
3. A autora emprega adjetivos simples ('calmo', 'triste', 'magro'), locuções adjetivas ('sem força') e orações adjetivas ('que nem se mostra') para qualificar as partes do corpo (rosto, olhos, lábio, mãos, coração) que descreve no poema.
4. O jogo entre o pretérito imperfeito ('eu não tinha') e o perfeito ('eu não dei'; 'ficou perdida') ajuda o leitor a perceber que, no texto, o eu lírico reflete sobre o passado para projetar um futuro mais feliz.
Estão CORRETAS:
a) 1, 2 e 3, apenas.
b) 1 e 4, apenas.
c) 2 e 4, apenas.
d) 2, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
GABARITO.
Os Textos 9, 10, 11 e 12 servem de base à questão 11.
Texto 9
La Deposizione di Cristo (1602–1603), de Caravaggio
Disponível em: https://jornalggn.com.br/noticia/a-descida-da-cruz-porcaravaggio/ Acesso em: 20/06/2019.
Texto 10
Descida da Cruz (1612-1614), dePeter Paul Rubens
Disponível em: https://santhatela.com.br/peter-paulrubens/rubens-descida-da-cruz/ Acesso em: 20/06/2019.
Texto 11
Buscando a Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.
A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, pra chamar-me
A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
MATOS, Gregório de. Buscando a Cristo.
Disponível em: https://www.escritas.org/pt/t/6226/buscando-a-cristo
Acesso em: 20/06/2019.
Texto 12
Disponível em:
https://twitter.com/belasartes/status/820979432659808258
Acesso em: 20/06/2019.
QUESTÃO 11
(UPE 2020) O Barroco destacou-se como estilo artístico-estético e influenciou várias manifestações artísticas, como pintura, literatura, música e arquitetura. Considerando os textos lidos e as características desse estilo de época, analise as afirmativas a seguir e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas.
( ) Os Textos 9 e 10 mantêm relações intertextuais. Nas pinturas destacadas, o Barroco manifesta-se a partir das seguintes características: temática religiosa, riqueza nos detalhes, jogo de luzes e sombras, expressões dramáticas das personagens retratadas.
( ) O Texto 11 é representativo da poesia religiosa de Gregório de Matos. A produção poética de O boca do inferno contempla apenas a poesia religiosa. Influenciado pela Contrarreforma, o Barroco produziu uma arte marcada pela oposição aos valores sacros, o que fica evidente no Texto 11.
( ) Tendo em vista as influências estéticas na contemporaneidade, o Barroco se destaca em releituras, como ocorre no Texto 12, o qual evidencia conexão intertextual com a pintura barroca. A arte barroca apresenta características dramáticas e expressivas.
( ) Embora todos os textos sejam exemplos da estética barroca, percebem-se diferenças entre eles. O rebuscamento artístico, tão comumente almejado pelos artistas barrocos, só fica evidente nos Textos 9, 10 e 12, já que no, Texto 11, por tratar-se de um soneto, não há complexidade na linguagem.
A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) V – F – F – F
b) F – F – F – V
c) V – F – V – F
d) V – V – F – F
e) V – V – V – V
GABARITO.
Os Textos 13, 14, 15 e 16 servem de base à questão 12.
Texto 13
Thomas Gainsborough, Mr. e mrs. Andrews, 1749.
Disponível em: http://www.theartwolf.com/landscapes/gainsborough-mr-mrs-andrews.htm
Acesso em: 20/06/2019.
Texto 14
Marília de Dirceu (Parte 1 – Lira XIV)
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça
Ah! enquanto os Destinos impiedosos
Não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim façamos, doce amada,
Os nossos breves dias mais ditosos.
Ornemos nossas testas com as flores.
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu: Parte 1 - Lira XIV. Excertos. Disponível em:
http://quartetovezesdois.blogspot.com/2013/08/marilia-de-dirceu-parte-1-lira-xiv.html
Acesso em: 20/06/2019.
Texto 15
A morte de Lindoia (Canto IV)
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
[...]
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
GAMA, José Basílio da. O Uraguai. Excertos. Disponível em:
https://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_uraguai
Acesso em: jun., 2019.
Texto 16
Lira XXIII
Num sítio ameno,
Cheio de rosas,
De brancos lírios,
Murtas viçosas,
Dos seus amores
Na companhia,
Dirceu passava
Alegre o dia.
Em tom de graça,
Ao terno amante
Manda Marília
Que toque e cante.
Pega na lira,
Sem que a tempere,
A voz levanta,
E as cordas fere.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu: Parte 1 - Lira
XXIII. Excertos. Disponível em:
http://trabmariliadedirceu.blogspot.com/2013/08/lira-xxiii.html
Acesso em: jun., 2019.
QUESTÃO 12
(UPE 2020) Considerando os Textos 13,14, 15 e 16 e as características do Arcadismo brasileiro, analise as afirmativas a seguir.
1) O Arcadismo é caracterizado pelo bucolismo, com poesia pastoral que descreve as belezas da vida campestre e da natureza. Na literatura árcade, identifica-se o cenário natural como espaço ideal para encontros amorosos. O Texto 13 mantém diálogo com a visão bucólica dos árcades, por meio da representação de locus amoenus.
2) O Texto 16 revela uma perspectiva diferente da natureza apresentada no Texto 13. A visão bucólica da natureza não é priorizada no poema de Tomás Antônio Gonzaga, pois o foco principal é destacar a imagem de Marília e sua relação afetiva com o pastor, sem conexões com o locus amoenus.
3) O carpe diem é uma característica da literatura árcade, conforme versos do Texto 14: “Aproveite-se o tempo, antes que faça/ O estrago de roubar ao corpo as forças/ E ao semblante a graça.” No poema, o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a aproveitar o momento presente.
4) A morte de Lindoia é um trecho do poema épico O Uraguai, de José Basílio da Gama. Nessa obra, o índio é tratado de forma poética, como ocorre no Texto 15, o qual revela lirismo e poeticidade por meio de linguagem conotativa.
Estão CORRETAS, apenas:
a) 1 e 2.
b) 1, 2 e 3.
c) 2 e 3.
d) 2, 3 e 4.
e) 1, 3 e 4.
GABARITO.
LÍNGUA PORTUGUESA
O Texto 1 serve de base às questões de 01 a 05.
Texto 1
Escravidão em tempos modernos
Após 13 horas golpeando o canavial da fazenda com seu facão, o negro Romário chega, sob os últimos raios de sol, ao barraco minúsculo onde vive trancafiado com outros três homens, igualmente escravizados e negros. O espaço não tem janela, água tratada e conta apenas com duas camas. Apesar disso, ele precisa comer os restos que o capataz lhe oferece e descansar: às 4h do dia seguinte, a labuta recomeça. Se resistir, será agredido com chicotadas e pauladas.
A cena poderia estar registrada no diário de algum cronista que passou pelo Brasil colonial no século XVII e visitou engenhos de açúcar no Recôncavo Baiano ou no litoral de Pernambuco. Infelizmente, não é o caso. Embora subjugados pela miséria, Romário Rosa e seus companheiros de lida eram homens livres até chegarem a uma fazenda na localidade de Angelim, em São Fidélis, no Norte Fluminense. Enganados pelo proprietário, foram escravizados por mais de dez anos. No dia 26 de abril, a polícia prendeu três pessoas: o fazendeiro, seu filho e o capataz.
Essa história pavorosa lembra uma passagem do livro "Formação do Brasil contemporâneo", de Caio Prado Jr., publicado em 1942: "O passado, aquele passado colonial, aí ainda está, e bem saliente; em parte modificado, é certo, mas presente em traços que não se deixam iludir." Nenhum país convive tanto tempo com a escravidão impunemente. (...)
Passamos pelos períodos colonial, imperial e republicano sem enfrentar a questão agrária. Herdamos uma estrutura excludente e concentradora de riquezas, mas não realizamos a reforma que poderia diminuir as injustiças no campo e as pressões migratórias para as cidades. A consequência não é só o trabalho escravo, mas o crescimento da violência nas áreas rurais, motivada por conflitos fundiários. (...)
Apesar dos exemplos, a nossa herança escravocrata não se restringe ao campo. Ela impregna as instituições, o acesso a direitos fundamentais, as nossas relações cotidianas mais banais. Como escreveu Caio Prado, aquele passado colonial ainda está presente naqueles quartinhos apertados construídos nos fundos dos apartamentos; na resistência a reconhecer os direitos trabalhistas das empregadas domésticas; na proibição de uma babá entrar num clube da Zona Sul sem seu distintivo uniforme; na criminalização do funk; no êxtase provocado pelo justiçamento de um adolescente acorrentado a um poste; no assassinato de jovens negros nas favelas; na negação da humanidade da massa carcerária brasileira...
Marcelo Freixo. Disponível em: https://oglobo.globo.com/
opiniao/escravidao-em-tempos-modernos-12388865
Acesso em: 27 jul. 2019. Adaptado.
QUESTÃO 01
(UPE 2020) Acerca do modo como se organiza discursivamente o Texto 1, analise as afirmativas a seguir.
1) Os dois primeiros parágrafos têm propriedades eminentemente narrativas, como atestam as marcas da passagem do tempo e a presença de um narrador onisciente.
2) O trecho: "No dia 26 de abril, a polícia prendeu três pessoas: o fazendeiro, seu filho e o capataz." configura-se como o desfecho da história que inicia o texto.
3) O tema, que é anunciado no título, permite uma expectativa de perspectiva histórica, o que é confirmado no trecho: "Passamos pelos períodos colonial, imperial e republicano" (4º parágrafo).
4) A história de Romário está ambientada no Brasil colonial do século XVII, quando a força escrava era o principal elemento da cadeia produtiva.
Estão CORRETAS:
a) 1 e 2, apenas.
b) 1, 2 e 3, apenas.
c) 1, 3 e 4, apenas.
d) 2 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
GABARITO.
QUESTÃO 02
(UPE 2020) Quanto às diferentes vozes presentes no Texto 1 e à relação deste com outros textos (intertextualidade), analise as afirmativas a seguir.
1) Fatos como os citados em: "O espaço não tem janela, água tratada e conta apenas com duas camas" foram, muito provavelmente, colhidos de textos jornalísticos autênticos que serviram de base ao texto de Freixo, o qual também circula na esfera jornalística.
2) A citação da obra de Caio Prado Jr., Formação do Brasil contemporâneo, vem reforçar o discurso do autor, ajudando-o a relacionar o Brasil dos tempos coloniais ao Brasil contemporâneo.
3) Freixo escreveu o trecho: [Como escreveu Caio Prado, aquele passado colonial ainda está presente naqueles quartinhos apertados] (5º parágrafo) sem aspas; isso revela que ele concorda com Caio Prado e pretendeu incorporar a voz desse autor à sua própria voz.
4) Os exemplos mencionados no último período do texto (quartinhos apertados; resistência a direitos trabalhistas das empregadas domésticas, criminalização do funk etc.) ecoam vozes de diferentes enunciadores que relataram fatos amplamente conhecidos pelos leitores.
Estão CORRETAS:
a) 1 e 3, apenas.
b) 1, 3 e 4, apenas.
c) 2 e 3, apenas.
d) 2 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
GABARITO.
QUESTÃO 03
(UPE 2020) No trecho: "(aquele passado colonial ainda está presente) na proibição de uma babá entrar num clube da Zona Sul sem seu distintivo uniforme", a palavra destacada imprime a "uniforme" um efeito de sentido associado a:
a) nobreza e discrição.
b) distinção e elegância.
c) discriminação e exclusão.
d) sobriedade e simplicidade.
e) individualidade e informalidade.
GABARITO.
QUESTÃO 04
(UPE 2020) Releia:
Após 13 horas golpeando o canavial da fazenda com seu facão, o negro Romário chega, sob os últimos raios de sol, ao barraco minúsculo onde vive trancafiado com outros três homens, igualmente escravizados e negros. O espaço não tem janela, água tratada e conta apenas com duas camas. Apesar disso, ele precisa comer os restos que o capataz lhe oferece (...).
Assinale a alternativa em que a substituição do segmento destacado mantém as relações coesivas do trecho em questão e recupera os sentidos pretendidos pelo autor.
a) Além de Romário viver em condições de trabalho análogas à escravidão, ele precisa comer os restos que o capataz lhe oferece.
b) As condições de trabalho de Romário são tão cruéis que ele precisa comer os restos que o capataz lhe oferece.
c) Enquanto trabalha duro no canavial por 13 horas seguidas, ele precisa comer os restos que o capataz lhe oferece.
d) Mesmo trabalhando duro durante 13 horas, ele precisa comer os restos que o capataz lhe oferece.
e) Uma vez que Romário vive trancafiado com outros três homens, ele precisa comer os restos que o capataz lhe oferece.
GABARITO.
QUESTÃO 05
(UPE 2020) Assinale a alternativa que preenche CORRETA e respectivamente as lacunas, no que diz respeito às normas de concordância verbal do seguinte enunciado:
"Tudo isso _______ fatos amplamente conhecidos e ___________________ muitas pessoas que conhecem histórias como essas. ____________ séculos que o Brasil vive essa triste realidade."
a) são – devem haver – Faz
b) são – devem haver – Fazem
c) são – devem existir – Faz
d) é – deve existir – Fazem
e) é – devem existir – Fazem
GABARITO.
Os Textos 2, 3 e 4 servem de base às questões 06 e 07.
Texto 02
Tragédia no lar
Na Senzala, úmida, estreita,
Brilha a chama da candeia,
No sapé se esgueira o vento.
E a luz da fogueira ateia.
Junto ao fogo, uma africana,
Sentada, o filho embalando,
Vai lentamente cantando
Uma tirana indolente,
Repassada de aflição.
E o menino ri contente...
Mas treme e grita gelado,
Se nas palhas do telhado
Ruge o vento do sertão. [...]
E voz como um soluço lacerante
Continua a cantar:
"Eu sou como a garça triste
"Que mora à beira do rio,
"As orvalhadas da noite
"Me fazem tremer de frio.
"Me fazem tremer de frio
"Como os juncos da lagoa;
"Feliz da araponga errante
"Que é livre, que livre voa.
CASTRO ALVES, Antônio de. Tragédia no lar (excertos). In:
Os escravos. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000009.pdf
Acesso em: 20/06/2019.
O canto do guerreiro
I
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.
II
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?
DIAS, Gonçalves. O canto do guerreiro. Excertos.
Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/gdias01.html#canto
Acesso em: 20/06/2019.
Lembrança de morrer
Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
— Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade — é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
AZEVEDO, Álvares de. Lembrança de morrer. Excertos.
Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz4.html#lembranca
Acesso em: 20/06/2019.
QUESTÃO 06
(UPE 2020) A linguagem figurada tem lugar de destaque nos textos poéticos e pode ser característica forte de determinadas escolas literárias.
Assinale a alternativa em que os versos do poeta Castro Alves empregam a personificação – recurso em que se atribuem atitudes e sentimentos a seres inanimados.
a) "Na Senzala, úmida, estreita, / Brilha a chama da candeia,"
b) "No sapé se esgueira o vento. / E a luz da candeia ateia"
c) "Junto ao fogo, uma africana, / Sentada, o filho embalando,"
d) "E o menino ri contente.../ Mas treme e grita gelado,"
e) "E voz como um soluço lacerante / Continua a cantar:"
QUESTÃO 07
(UPE 2020) A produção poética do Romantismo brasileiro apresentou características e estilos diversificados. Acerca dessa escola literária e com base nos Textos 2, 3 e 4, assinale a alternativa CORRETA.
a) O Texto 2 revela a vida dos escravos na senzala e é representativo do Condoreirismo, vertente social e abolicionista da primeira geração da poesia romântica brasileira. Castro Alves escreveu apenas poemas com teor abolicionista, com foco na denúncia social.
b) Além da produção poética de cunho abolicionista, Castro Alves também escreveu poemas líricos, como o Texto 2, no qual o poeta revela uma imagem idealizada e angelical da personagem feminina.
c) Gonçalves Dias é um poeta da primeira geração do Romantismo brasileiro, caracterizada pelo pensamento nacionalista. O indianismo é explorado nessa fase, conforme se nota no Texto 3, no qual o índio surge de forma idealizada, como um guerreiro valente.
d) O Mal do Século marcou a terceira geração do Romantismo brasileiro, com poesia caracterizada por nacionalismo extremo, melancolia profunda, culto do mistério. A poesia de Álvares de Azevedo destacou-se nessa fase, com temáticas sobre morte e representação naturalista das mulheres.
e) O Texto 4 é um exemplo da poesia ultrarromântica e apresenta a angústia do eu lírico com a possibilidade da morte. O poema caracteriza-se pela simplicidade da linguagem e pela ausência de simbolismo na representação da morte como único refúgio.
GABARITO.
Os Textos 5, 6, 7 e 8 servem de base às questões 08 e 09.
Texto 5
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
ALENCAR, José. Iracema. Capítulo 2. Excertos. p. 5.
Disponível em: http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/Livros_eletronicos/iracema.pdf
Acesso em: 20/06/2019
Texto 6
Quem observasse Aurélia naquele momento, não deixaria de notar a nova fisionomia que tomara o seu belo semblante e que influía em toda a sua pessoa.
Era uma expressão fria, pausada, inflexível, que jaspeava sua beleza, dando-lhe quase a gelidez da estátua. Mas no lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam as irradiações da inteligência.
Operava-se nela uma revolução. O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem. [...]
Era realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a perspicácia com que essa moça de dezoito anos apreciava as questões mais complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios, e a facilidade com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer operação aritmética por muito difícil e intrincada que fosse.
ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo:
Melhoramentos, 2013. Excertos. p. 29.
Texto 7
A lua vinha assomando pelo cimo das montanhas fronteiras; descobri nessa ocasião, a alguns passos de mim, uma linda moça, que parara um instante para contemplar no horizonte as nuvens brancas esgarçadas sobre o céu azul e estrelado.
Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues vapores da alvorada. Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição.
— Já vi esta moça! Disse comigo. Mas onde?... [...]
— Quem é esta senhora? Perguntei a Sá.
A resposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais.
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la ?...
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência. Só então notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-me ter feito suspeitar a verdade.
ALENCAR, José de. Lucíola. 12. ed.,
São Paulo: Ática, 1988. Excertos. p. 3-4.
Texto 8
Treinada desde cedo para ser uma guerreira imbatível, Diana Prince (Gal Gadot) nunca saiu da paradisíaca ilha em que é reconhecida como princesa das Amazonas.
Quando o piloto Steve Trevor (Chris Pine) se acidenta e cai numa praia do local, ela descobre que uma guerra sem precedentes está se espalhando pelo mundo e decide deixar seu lar certa de que pode parar o conflito. Lutando para acabar com todas as lutas, Diana percebe o alcance de seus poderes e sua verdadeira missão na Terra.
Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-173720/
Acesso em: 20/06/2019
QUESTÃO 08
(UPE 2020) A representação feminina é bastante evidenciada na prosa romântica brasileira. Considerando características da prosa do Romantismo brasileiro e as representações femininas, assinale com V as afirmativas verdadeiras e com F, as falsas.
( ) O Texto 5 é um fragmento do romance indianista Iracema e traz à tona a cultura e os costumes indígenas. A descrição de Iracema é idealizada por meio de figuras de linguagem: "virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira".
( ) Assim como ocorre com Iracema, Aurélia é descrita de forma bastante idealizada (Texto 6) pelo narrador onisciente que aborda o sentimentalismo feminino, próprio das personagens românticas de José de Alencar. Conforme o Texto 6, Aurélia tem como foco natural o coração, ou seja, "princípio vital da mulher”.
( ) O Texto 7 revela uma passagem do romance urbano Lucíola, com a descrição da personagem Lúcia, sob o olhar do narrador Paulo. A imagem da mulher é apresentada inicialmente de modo idealizado, com linguagem adjetivada e imagens próprias do Romantismo: "doce melancolia”, “ingênua castidade”, “olhar calmo e sereno na mimosa aparição”. No entanto, o tom do narrador muda quando descobre que se tratava de uma cortesã.
( ) Todas as representações femininas (Textos 5, 6 e 7) mantêm relações dialógicas com o perfil da Mulher Maravilha (Texto 8), uma super-heroína que apresenta os estereótipos de força, beleza e idealização, com seus superpoderes. Assim como as personagens femininas dos romances citados, a imagem da Mulher Maravilha dialoga, de forma idêntica, com as construções das personagens femininas de José de Alencar.
A sequência CORRETA de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) V – F – F – F
b) F – F – F – V
c) V – V – V – V
d) V – V – F – F
e) V – F – V – F
GABARITO.
QUESTÃO 09
(UPE 2020) Para compreender textos, não se pode esquecer de que eles são criados dentro de um contexto histórico, ou seja, com base numa perspectiva espaço-temporal. Isso vale para todos os textos, mas é particularmente mais saliente nos textos literários.
No Texto 6, a personagem Aurélia é apresentada a partir de uma perspectiva inaceitável atualmente, qual seja:
a) uma visão que valoriza apenas os atributos físicos da mulher.
b) um ponto de vista segundo o qual a mulher é fria e calculista.
c) a ideia de que a mulher usa a sua beleza para dominar o homem.
d) uma opinião que considera a personagem uma pessoa inflexível.
e) a concepção de que Aurélia era inteligente, apesar de ser mulher.
GABARITO.
Os Textos 9 e 10 servem de base à questão 10.
Texto 9
ÓBITO DO AUTOR
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.
São Paulo: Ática, 1997. Excertos. p. 17.
Texto 10
Filme Memórias Póstumas (2001). Ator Reginaldo Faria no papel de Brás Cubas
Disponível em: http://melancianacabeca.com.br/blog/resenha-memorias-
postumas-de-bras-cubas/memorias-postumas-filme/
Acesso em: 20/06/2019.
QUESTÃO 10
(UPE 2020) Machado de Assis destacou-se na literatura brasileira pelo estilo singular na construção de narrativas inovadoras, como a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas. Com base na leitura dos Textos 9 e 10 e tendo em vista as características da produção literária machadiana, assinale a alternativa CORRETA.
a) Conforme o Texto 9, Brás Cubas é o ―defunto autor‖, ou seja, narrador onisciente que conta suas memórias depois de ter falecido. Brás Cubas é um homem pobre, casado com Virgília, o qual resolve se dedicar à tarefa de narrar sua história depois de morto, preocupando-se demasiadamente com o julgamento que os vivos podem fazer dele.
b) A narração é feita em primeira pessoa, por meio de linguagem carente de ambiguidades e ironias. Como Brás Cubas está contando a sua própria história, assume a posição de um ―narrador confiável‖, pois apresenta os fatos e demais personagens de forma realista e coerente com sua ótica pessoal e subjetiva.
c) O romance apresenta uma narração linear, obedecendo ao tempo cronológico por meio de um encadeamento racional dos eventos narrados. Trata-se de "obra de finado", já que Brás Cubas é um autor defunto e transcende a vida terrena.
d) Na obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, o narrador conversa, em alguns momentos, com o leitor, criando-se um clima de cumplicidade. No filme, o telespectador assume essa posição de interlocutor. Na adaptação para a linguagem fílmica, o ator Reginaldo Faria, no papel de Brás Cubas, dirige-se ao telespectador, direcionando o olhar para a câmera (Texto 10).
e) Na cena (Texto 10), o autor defunto (Brás Cubas) assume a posição de narrador onisciente e relata o episódio de seu próprio enterro, como se pode notar, também, no Texto 9. Tanto no romance machadiano em foco quanto no filme, o relato do enterro é feito de forma romântica e idealizada.
GABARITO.
Os Textos 11, 12 e 13 servem de base às questões 11 e 12.
Texto 11
Siderações
Para as Estrelas de cristais gelados
As ânsias e os desejos vão subindo,
Galgando azuis e siderais noivados
De nuvens brancas a amplidão vestindo...
Num cortejo de cânticos alados
Os arcanjos, as cítaras ferindo,
Passam, das vestes nos troféus prateados,
As asas de ouro finamente abrindo...
Dos etéreos turíbulos de neve
Claro incenso aromal, límpido e leve,
Ondas nevoentas de Visões levanta...
E as ânsias e os desejos infinitos
Vão com os arcanjos formulando ritos
Da Eternidade que nos Astros canta...
SOUSA, Cruz e. Siderações. Disponível em:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html#sideracoes
Acesso em: 20/07/2019.
Texto 12
Disponível em:
https://pt.dopl3r.com/memes/engra%C3%A7ado/hoje-acordei-artesimbolista-
oartesdepressao-misticosensivel-intuitivo-evivendo-emuma-
realidadealternativa-artes-depressao/72093 Acesso em: 20/07/2019.
Texto 13
A um poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
BILAC, Olavo. A um poeta. Disponível em:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/bilac.html#poeta
Acesso em: 20/06/2019.
QUESTÃO 11
(UPE 2020) Com base nas características do Simbolismo e do Parnasianismo no Brasil e após a leitura dos Textos 11, 12 e 13, assinale a alternativa CORRETA.
a) Na busca de sugerir imagens sensoriais, uma das principais características do Parnasianismo, o poeta aproxima exageradamente a poesia da música no Texto 13. Olavo Bilac foi o maior poeta parnasiano do Brasil, com sua poesia caracterizada pela subjetividade extrema e pela busca da perfeição formal.
b) Os simbolistas priorizaram a linguagem com o intuito de provocar experiências sensoriais no leitor. O Texto 11 apresenta linguagem figurada, com referências cromáticas: "galgando azuis e siderais noivados"/"De nuvens brancas a amplidão vestindo...". A repetição do fonema /s/ em: "Para as estrelas de cristais gelados / as ânsias e os desejos" imprime musicalidade aos versos.
c) O Texto 13 é um soneto metalinguístico de Olavo Bilac, pois o poeta parnasiano trata do próprio ato de escrever poemas. No poema, o ato de escrever é fruto da simples inspiração poética, sem preocupação excessiva com a forma. A poesia de Olavo Bilac é marcada pelo lirismo e pelos exageros sentimentais, características marcantes no Parnasianismo brasileiro.
d) Cruz e Sousa destacou-se no Simbolismo brasileiro, com sua poesia marcada por reflexões científicas. No Texto 11, o poeta realiza uma combinação especial de ritmos da linguagem, priorizando a erudição extrema e o preciosismo formal, características da produção poética simbolista.
e) O Texto 12 dialoga com a pintura simbolista e faz referência às características estéticas do Simbolismo. Na pintura simbolista, eram adotadas as formas naturalistas e realistas para representar o mundo real. Na literatura, o realismo dos versos simbolistas facilita a compreensão dos poemas, escritos com linguagem denotativa.
GABARITO.
QUESTÃO 12
(UPE 2020) O Texto 12 faz referência à arte simbolista a partir de recursos verbais e multimodais, tendo em vista obter como efeito o humor. No que se refere às características do Simbolismo e ao cumprimento desse propósito, analise as afirmativas a seguir.
1) De fato, o texto verbal: "Místico, sensível, intuitivo e vivendo em uma realidade alternativa" traz referências próprias do Simbolismo, como a religiosidade e a subjetividade.
2) Com a expressão "realidade alternativa", o enunciador pretende marcar, com humor, sua contestação à "outra realidade" e, por esse caminho, sugere ao receptor a adesão a valores mais significativos.
3) Os recursos multimodais empregados no texto não se harmonizam com a linguagem simbolista, já que empregam símbolos visuais contemporâneos.
4) A figura humana que aparece no centro da cena, de aparência etérea, jeito angelical, envolvida em sugestões cromáticas suaves, de certa forma, reproduz a "realidade alternativa" referida no texto verbal.
Estão CORRETAS, apenas:
a) 1 e 2.
b) 1 e 3.
c) 1, 2 e 4.
d) 2, 3 e 4.
e) 2 e 4.
GABARITO.
LÍNGUA PORTUGUESA
O Texto 1 serve de base às questões de 01 a 07.
Texto 1
Com você ando melhor
Semana passada, escutamos consternadas o relato de uma pessoa querida. A gente vai chamá-la de Sônia. Militante de esquerda, ela foi presa nos anos 1970. Foi torturada. Esteve nos porões do Dops, nas mãos da Oban e ficou encarcerada no infame Presídio Tiradentes. Passou um bom tempo na ala feminina do presídio. Seu marido foi também preso, também torturado e também confinado. Residiu na ala masculina do mesmo Tiradentes.
Na cadeia, Sônia conheceu uma menina. Uma companheira cativa. Chamaremos de Raquel. Assustadas, machucadas e habitando um ambiente absurdamente hostil, as duas não sabiam quando sairiam daquele lugar. Nem sequer se um dia voltariam para casa. Submersas nessa insegurança, se aproximaram. Viraram amigas.
Uns meses depois da chegada de Raquel ao Tiradentes, Sônia percebeu que a menina estava agoniada. Bem jovem, Raquel tinha um namoradinho. E tinha quase certeza de que estava grávida do moço. Um menino igualmente jovem. Sônia frisou: muito agoniada.
Fizemos mil suposições. Imaginamos que a agonia de Raquel vinha do medo de dar à luz no cárcere. De o namoradinho não esperar por ela. Dele também estar preso, sofrendo o que ela estava sofrendo. Quem sabe, até pior. Como será experimentar tamanha vulnerabilidade e incerteza?
Sônia seguiu contando. Disse que, num determinado momento, ela e Raquel entenderam que era imprescindível fazer um exame para confirmar a gravidez. Sônia foi então à administração do presídio e requisitou um exame de urina. Para ela. Levou o material para a sua cela. Lá, Raquel esperava ansiosa. Coletou o material necessário. Sônia voltou à administração do Tiradentes e o submeteu em seu nome.
Estranhamos. Por que o exame com os nomes trocados? Por que não testar o material de Raquel, de fato receosa e precisando saber do resultado?
Sônia explicou comovida: Raquel era formalmente solteira. Era o que constava na ficha dela. Estado civil: solteira. Quando mulheres com esse status exibiam comportamento interpretado pelas autoridades como promíscuo, voltavam às salas de tortura (ou para onde fosse confortável para seus algozes aproveitarem melhor suas vítimas).
O desfecho dessa história não é importante. O fato de as duas mulheres serem militantes de esquerda presas e cruelmente torturadas em razão de sua militância também não é determinante para o que nos interessa dizer. Hoje queremos falar de sororidade, essa palavra que designa o vínculo entre mulheres. Um vínculo recheado de empatia, companheirismo, cumplicidade, afeto. O vínculo que nos faz resistentes, resilientes. O combustível das redes de apoio e acolhimento que as mulheres constroem sempre, em todo canto e a todo tempo.
Toda mulher é sempre muitas mulheres. Tem sempre muitas outras com ela. Por ela. E tem mais. Os homens no poder insistem em diminuir nossa luta por direitos e dizer que nossa aptidão para a construção de redes é um dado da natureza. Seríamos naturalmente mais gregárias. Mentira. Fomos obrigadas a desenvolver estratégias de sobrevivência rizomáticas que não nos deixassem à mercê de um Estado que não nos ampara adequadamente.
Não é à toa que as feministas, quando marcham, sempre cantam: "companheira me ajuda/ que não posso andar só/ eu sozinha ando bem/ mas com você ando melhor."
Ontem, Dia das Mães, esperamos que vocês tenham celebrado suas mães. Mas torcemos para que tenham reconhecido e festejado igualmente todas as muitas outras mulheres em torno delas. A rede que fez e faz a maternidade e a maternagem delas possíveis.
Antonia Pellegrino e Manoela Miklos.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/
colunas/antonia-pellegrino-e-manoelamiklos/2019/05/
com-voce-ando-melhor.shtml. Acesso em: 15/mai., 2019.
QUESTÃO 01
(UPE 2020) Para compreender um texto em sua dimensão global, é necessário considerar o propósito de seu(s) autor(es), uma questão relacionada principalmente ao gênero textual. No caso do Texto 1, o propósito das autoras é, fundamentalmente:
a) contar a comovente e impressionante história de uma jovem militante política; por isso, elas elaboram o texto em forma de relato pessoal.
b) denunciar a violência que ocorreu no País no período militar; para isso, formulam um texto cujo conteúdo é basicamente uma peça de acusação.
c) comprovar que, de fato, houve tortura no regime militar; em razão disso, apresentam dados históricos organizados em forma de artigo científico.
d) divulgar as redes de apoio a mulheres vítimas de todo tipo de violência; assim, o texto funciona como uma campanha publicitária.
e) legitimar um elo de afetividade e empatia entre mulheres; para tanto, trazem uma narrativa tocante como base para um artigo de opinião.
GABARITO.
QUESTÃO 02
(UPE 2020) Assinale a alternativa em que ambos os segmentos indicados guardam relação semântica com o principal propósito (e tema) do Texto 1.
a) pessoa querida – seu marido
b) Na cadeia – companheira cativa
c) um namoradinho – grávida do moço
d) salas de tortura – algozes
e) sororidade – mulheres
GABARITO.
QUESTÃO 03
(UPE 2020) O título conferido ao Texto 1 dialoga, principalmente, com qual conceito, tão relevante nesse texto?
a) Feministas.
b) Rede.
c) Dia das Mães.
d) Grávida.
e) Maternidade.
GABARITO.
QUESTÃO 04
(UPE 2020) Assinale a alternativa na qual o trecho destacado cumpre a função de localizar temporalmente o que é dito em seguida.
a) Uns meses depois da chegada de Raquel ao Tiradentes, Sônia percebeu que a menina estava agoniada.
b) Imaginamos que a agonia de Raquel vinha do medo de dar à luz no cárcere.
c) Disse que, num determinado momento, ela e Raquel entenderam que era imprescindível fazer um exame para confirmar a gravidez.
d) O fato de as duas mulheres serem militantes de esquerda presas e cruelmente torturadas em razão de sua militância também não é determinante para o que nos interessa dizer.
e) Os homens no poder insistem em diminuir nossa luta por direitos e dizer que nossa aptidão para a construção de redes é um dado da natureza.
GABARITO.
QUESTÃO 05
(UPE 2020) Para construir a argumentação, as autoras, por vezes, demonstram seu ponto de vista de maneira explícita. Isso pode ser observado no seguinte trecho:
a) "Assustadas, machucadas e habitando um ambiente absurdamente hostil, as duas não sabiam quando sairiam daquele lugar."
b) "[Sônia] disse que, num determinado momento, ela e Raquel entenderam que era imprescindível fazer um exame para confirmar a gravidez."
c) "Hoje queremos falar de sororidade, essa palavra que designa o vínculo entre mulheres."
d) "Os homens no poder insistem em diminuir nossa luta por direitos e dizer que nossa aptidão para a construção de redes é um dado da natureza. Seríamos naturalmente mais gregárias. Mentira."
e) "Não é à toa que as feministas, quando marcham, sempre cantam: companheira me ajuda/que não posso andar só/eu sozinha ando bem/mas com você ando melhor."
GABARITO.
QUESTÃO 06
(UPE 2020) Todo texto se organiza a partir de uma proposta temática. O Texto 1, por exemplo, organiza-se com base no seguinte tema principal:
a) a importância da militância política feminina.
b) as principais bandeiras do movimento feminista.
c) os problemas da gravidez não planejada.
d) a violência do Estado contra as mulheres.
e) a capacidade gregária das mulheres.
GABARITO.
QUESTÃO 07
(UPE 2020) Considerando alguns aspectos formais do Texto 1, analise as proposições a seguir.
1) Na expressão sublinhada em: "Imaginamos que a agonia de Raquel vinha do medo de dar à luz no cárcere.", o termo "luz" é complemento indireto e palavra feminina, o que exige o sinal indicativo de crase nessa expressão.
2) O trecho "Semana passada, escutamos consternadas o relato de uma pessoa querida. A gente vai chamá-la de Sônia." evidencia a existência de duas formas para expressar a 1ª pessoa do plural em português: a forma "nós", que exige verbo no plural, e a forma "a gente", que exige verbo no singular.
3) Em português, os pronomes oblíquos átonos podem posicionar-se antes, no meio ou depois da forma verbal. Por exemplo, no trecho "Fomos obrigadas a desenvolver estratégias de sobrevivência rizomáticas que não nos deixassem à mercê de um Estado que não nos ampara adequadamente.", a posição do pronome destacado após a forma verbal também atenderia à norma culta da língua.
4) Observe o atendimento às normas de regência verbal no trecho: "Hoje queremos falar de sororidade, essa palavra que designa o vínculo entre mulheres." Essas normas estariam igualmente atendidas se o segmento destacado fosse substituído por "faz referência ao vínculo...".
Estão CORRETAS:
a) 1 e 3, apenas.
b) 2 e 4, apenas.
c) 1, 2 e 4, apenas.
d) 2, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
GABARITO.
O Texto 2 serve de base à questão 08.
Texto 2
Disponível em:
https://br.pinterest.com/pin/411375747194683682/
Acesso em: 17/05/2019.
QUESTÃO 08
(UPE 2020) Acerca do Texto 2, analise as seguintes afirmativas.
1) A organização visual em formato de cruz da primeira parte do texto, mais do que remeter a um jogo de "palavras cruzadas", alude a religiosidade e a sacrifícios extremos; já a segunda parte, formada por três linhas de texto sobrepostas horizontalmente, pode ser associada a base, sustentação.
2) Há uma franca oposição nos enunciados verbais que iniciam o texto: a disposição vertical/horizontal; a alternância "não é/é"; a desvalorização semântica de "mimimi" diante da relevância dos conceitos de "discriminação", "feminicídio" e "misoginia"; e o contraste entre "mimimi" e "luta".
3) Faz parte da estratégia persuasiva do texto o emprego de dados numéricos impactantes, atribuídos a uma autoridade reconhecida como tal, bem como a comunicação direta com o interlocutor ("E você...?").
4) O emprego da cor rosa, em alguns enunciados, uma simbologia amplamente reconhecida como ligada ao universo feminino, tem a clara intenção de reforçar um ideal de delicadeza, reconhecido e aceito pelo enunciador como próprio do gênero feminino.
Estão CORRETAS:
a) 1 e 2, apenas.
b) 1, 2 e 3, apenas.
c) 1, 3 e 4, apenas.
d) 2, 3 e 4, apenas.
e) 1, 2, 3 e 4.
GABARITO.
Os Textos 3, 4, 5, 6 e 7 servem de base à questão 09.
Texto 3
Disponível em:
https://twitter.com/artes_depressao/status/768802705989111808
Acesso em: 15/05/2019.
Texto 4
Disponível em:
https://br.pinterest.com/pin/342203271656356035/
Acesso em: 15/05/2019.
Texto 5
A Negra (1923), obra de Tarsila do Amaral.
Disponível em:
http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/
seculoxx/modulo2/modernismo/artistas/tarsila/obras.htm
Acesso em: 15/05/2019.
Texto 6
CAMPOS, Augusto de. Poesia 1949-1979.
São Paulo: Brasiliense, 1986.
Texto 7
Pré-história
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.
MENDES, Murilo. Poesia Completa e Prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.
QUESTÃO 09
(UPE 2020) As vanguardas europeias foram manifestações artísticas que se destacaram na Europa no início do Século XX, dentre as quais, podemos citar Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo.
As correntes vanguardistas influenciaram o Modernismo no Brasil. Com base na leitura dos Textos 3, 4, 5, 6 e 7 e, tendo em vista as características das vanguardas europeias, assinale a alternativa CORRETA.
a) Os Textos 3 e 4 são releituras de obras representativas das vanguardas europeias. O Texto 3 prioriza o humor e a linguagem informal na releitura da obra cubista de Pablo Picasso. O Texto 4 é uma paródia da pintura futurista O Grito. O Cubismo e o Futurismo aproximaram-se como tendências estéticas que pregavam a valorização da tecnologia e da velocidade.
b) A obra A Negra, de Tarsila do Amaral (Texto 5), revela traços característicos do Surrealismo, principalmente quando observamos figuras geométricas no fundo da tela. Em A Negra, a artista buscou seguir os preceitos da estética surrealista na representação caricatural e idealizada da personagem feminina.
c) O Texto 6 é um poema concreto e revela influências das vanguardas europeias. No Brasil, o concretismo adotou a eliminação de versos e a incorporação de figuras geométricas. O poema de Augusto de Campos explora alguns conceitos estéticos do Dadaísmo, tais como: anarquismo, busca do caos, desordem e caráter irônico.
d) O imaginário dos sonhos, fantasias, inconsciência e ausência de lógica são traços característicos do Surrealismo. O Texto 7, Pré-história, de Murilo Mendes, apresenta traços da estética surrealista, por meio de imagens que remetem ao sonho: a personagem feminina que "tocava piano no caos", "abriu as asas", "equilibrou-se no azul" e "cai no álbum de retratos".
e) No Expressionismo, os artistas demonstravam emoções e sentimentos de forma exagerada, subversiva e com teor pessimista. A estética expressionista influenciou a literatura moderna no Brasil, por meio de características, como: objetividade, ausência de figuras de linguagem e simbolismo na representação fiel da realidade.
GABARITO.
Os Textos 8, 9, 10 e 11 servem de base à questão 10.
Texto 8
Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. [...] Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro.
O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaram-se, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
– Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai. Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse. Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo. A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos.
– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 70. ed.
São Paulo: Record, 1995. Excertos: p. 9-10.
Texto 9
Fugindo da Seca, de J. Borges
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/301319031309837639/
Acesso em: 15/05/2019.
Texto 10
Retirantes (1944), de Candido Portinari
Disponível em: https://masp.org.br/acervo/obra/retirantes
Acesso em: 15/05/2019.
Texto 11
Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas. Mãezinha, cadê a janta? − Cala a boca, menino! Já vem! – Vem lá o quê!... Angustiado, Chico Bento apalpava os bolsos... nem um triste vintém azinhavrado... Lembrou-se da rede nova, grande e de listras que comprara em Quixadá por conta do vale de Vicente. Tinha sido para a viagem. Mas antes dormir no chão do que ver os meninos chorando, com a barriga roncando de fome. Estavam já na estrada do Castro. E se arrancharam debaixo dum velho pau-branco seco, nu e retorcido, a bem dizer ao tempo, porque aqueles cepos apontados para o céu não tinham nada de abrigo.
QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. Rio de Janeiro:
José Olympio Ed., s/d. Excertos: p. 33-35.
QUESTÃO 10
(UPE 2020) O Regionalismo encontrou espaço no Modernismo brasileiro com a publicação de romances que focam o cenário nordestino e a denúncia social.
As narrativas regionalistas ressaltam questões sociais, como, por exemplo, a vida dos retirantes, a migração, a fome e a indústria da seca.
Considerando as características do Regionalismo no Modernismo brasileiro, analise as proposições a seguir.
1. O Romance de 1930 reúne diversas obras de caráter social da segunda fase do Modernismo no Brasil. Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz destacaram-se com obras que retrataram os movimentos migratórios dos nordestinos em consequência da seca. Os Textos 8 e 11 são representativos da prosa regionalista de 1930.
2. O Texto 8 revela a postura rude de Fabiano nas relações familiares, sobretudo, com o menino mais velho, como se pode notar nos seguintes trechos: "Anda, condenado do diabo"; "Anda, excomungado"; "Fabiano desejou matá-lo"; "Tinha o coração grosso". Essa postura de Fabiano dialoga com as tensões entre o meio natural e o meio social, evidenciando a influência das mazelas da seca na construção psicológica da personagem.
3. Os Textos 9 e 10 priorizam linguagens não verbais diversificadas (xilogravura e pintura) e apresentam conexões intertextuais com as temáticas apresentadas nos Textos 8 e 11, entretanto, a xilogravura e a pintura têm preocupação meramente artística, sem foco na denúncia social.
4. O Texto 11 (O Quinze) evidencia a problemática social da fome em virtude da seca no Nordeste brasileiro. A obra de Rachel de Queiroz é marcada pelo impressionismo, com linguagem muito formal, repleta de vocabulário rebuscado.
Estão CORRETAS, apenas:
a) 1 e 2.
b) 1, 2 e 3.
c) 2 e 3.
d) 2, 3 e 4.
e) 3 e 4.
GABARITO.
Os Textos 12, 13 e 14 servem de base à questão 11.
Texto 12
Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Penso depois: não só para corrigir, como para justificar o que escrevi. Daí a razão deste Prefácio Interessantíssimo.
ANDRADE, Mário de. "Prefácio Interessantíssimo".
In: Pauliceia Desvairada. Excerto. Disponível em:
http://www.mac.usp.br/mac/templates/projetos/
jogo/pauliceia.asp Acesso em: 20/05/2019.
Texto 13
Por que escrevo? Antes de tudo porque captei o espírito da língua e assim às vezes a forma é que faz conteúdo. [...] Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1993. Excertos: p. 32- 33.
Texto 14
Poesia
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. "Alguma poesia".
Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002.
QUESTÃO 11
(UPE 2020) No Modernismo brasileiro, diversos autores utilizaram a metalinguagem para refletir sobre o processo de criação literária, uma vez que a metalinguagem reflete a própria linguagem utilizada.
Na literatura, muitos autores elaboraram textos metalinguísticos com diferentes percepções e estilos. Considerando as características da produção literária modernista, analise as proposições a seguir.
1. Mário de Andrade, autor de Macunaíma, destacou-se no primeiro momento do Modernismo brasileiro. O Texto 12 reflete sobre o ato de escrever como processo em que o autor segue primeiramente a impulsão lírica.
2. A poesia de Carlos Drummond de Andrade é marcada pela objetividade extrema e pelo predomínio da erudição formal, e o fazer poético aparece como reflexão ao longo de sua poesia. No Texto 14, o ato de escrever poesia é apenas fruto de um simples processo de inspiração, como nos versos: "Gastei uma hora pensando um verso/que a pena não quer escrever".
3. A obra A hora da estrela, de Clarice Lispector, apresenta reflexões metalinguísticas sobre o exercício da escrita e o papel do escritor. No Texto 13, o narrador comenta que a escrita literária não é uma tarefa fácil, pelo contrário, é um ato "duro como quebrar rochas". O escritor precisa articular forma e conteúdo.
4. Os Textos 12, 13 e 14 mantêm relações intertextuais temáticas, uma vez que destacam a metalinguagem como recurso importante na construção da escrita literária. As visões dos textos são idênticas, ou seja, escrever literatura é uma tarefa que precisa apenas da inspiração lírica.
Estão CORRETAS, apenas:
a) 1, 2 e 3.
b) 1 e 3.
c) 2 e 3.
d) 2 e 4.
e) 3 e 4.
GABARITO.
Os Textos 15, 16 e 17 servem de base à questão 12.
Texto 15
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais.
De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. [...]
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo.
Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
ROSA, João Guimarães. "A terceira margem do rio".
In: Primeiras Histórias. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1988. Excertos: p. 36-37.
Texto 16
O cão sem plumas
I. Paisagem do Capibaribe
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
MELO NETO, João Cabral de. O Cão sem Plumas. Excertos.
Disponível em: http://www.algumapoesia.com.br/
poesia/poesianet001.htm. Acesso em: 15/05/2019.
Texto 17
O mangue e os caranguejos sugerem os movimentos da coreografia
no espetáculo da Cia. Deborah Colker, inspirado no poema O cão
sem plumas, de João Cabral de Melo Neto.
Disponível em: http://www.teatrosergiocardoso.org.br/
event/caosem-plumas-2019-06-02/Acesso em: 15/05/2019.
QUESTÃO 12
(UPE 2020) Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto são autores que se destacaram no Modernismo brasileiro. Considerando as características das produções literárias desses autores, assinale a alternativa CORRETA.
a) O Texto 15 é um fragmento do conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, com narrador onisciente que relata o episódio do isolamento do pai no rio. Guimarães Rosa destacou-se no Modernismo brasileiro como autor que utilizou linguagem simples para representar o dialeto do nordestino, inaugurando um regionalismo ingênuo.
b) O Texto 16 apresenta um olhar poético sobre o Capibaribe, rio metaforicamente simbolizado pela imagem de um "cão sem plumas", com sua sujeira, sua poluição, sua ausência de peixes. Também conhecido como "poeta engenheiro", João Cabral de Melo Neto criou uma poesia marcada pelo preciosismo formal e pela objetividade extrema na descrição da realidade, características marcantes do Modernismo brasileiro.
c) Os Textos 15 e 16 apresentam relações intertextuais, pois os autores construíram a imagem do rio poluído, intrinsecamente ligado às cidades e em sintonia com a vida miserável das personagens. Em Guimarães Rosa, contudo, o rio é desprovido de simbolismo, ao contrário do rio Capibaribe de Cabral.
d) O Texto 17 dialoga com o Texto 16, sobretudo, nos versos: "Sabia dos caranguejos/de lodo e ferrugem. Sabia da lama/como de uma mucosa." Contudo, a fotografia da cena, ao mostrar a expressão estática dos dançarinos, distancia-se da representação simbólica de O Cão sem Plumas de João Cabral.
e) No Texto 15, o narrador-personagem destaca a imagem simbólica do rio na narrativa, tendo em vista as relações simbólicas entre o pai, o filho e o rio. Há, ainda, conexões entre o ir e o vir do movimento do rio com a sugestão simbólica da morte em: "no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio."
GABARITO.
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