Os Textos 15, 16 e 17 servem de base à questão 12 . Texto 15 Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta cul...
Os Textos 15, 16 e 17 servem de base à questão 12.
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais.
De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. [...]
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo.
Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
Texto 16
O cão sem plumas
I. Paisagem do Capibaribe
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
QUESTÃO 12
(UPE 2020) Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto são autores que se destacaram no Modernismo brasileiro. Considerando as características das produções literárias desses autores, assinale a alternativa CORRETA.
a) O Texto 15 é um fragmento do conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, com narrador onisciente que relata o episódio do isolamento do pai no rio. Guimarães Rosa destacou-se no Modernismo brasileiro como autor que utilizou linguagem simples para representar o dialeto do nordestino, inaugurando um regionalismo ingênuo.
b) O Texto 16 apresenta um olhar poético sobre o Capibaribe, rio metaforicamente simbolizado pela imagem de um "cão sem plumas", com sua sujeira, sua poluição, sua ausência de peixes. Também conhecido como "poeta engenheiro", João Cabral de Melo Neto criou uma poesia marcada pelo preciosismo formal e pela objetividade extrema na descrição da realidade, características marcantes do Modernismo brasileiro.
c) Os Textos 15 e 16 apresentam relações intertextuais, pois os autores construíram a imagem do rio poluído, intrinsecamente ligado às cidades e em sintonia com a vida miserável das personagens. Em Guimarães Rosa, contudo, o rio é desprovido de simbolismo, ao contrário do rio Capibaribe de Cabral.
d) O Texto 17 dialoga com o Texto 16, sobretudo, nos versos: "Sabia dos caranguejos/de lodo e ferrugem. Sabia da lama/como de uma mucosa." Contudo, a fotografia da cena, ao mostrar a expressão estática dos dançarinos, distancia-se da representação simbólica de O Cão sem Plumas de João Cabral.
e) No Texto 15, o narrador-personagem destaca a imagem simbólica do rio na narrativa, tendo em vista as relações simbólicas entre o pai, o filho e o rio. Há, ainda, conexões entre o ir e o vir do movimento do rio com a sugestão simbólica da morte em: "no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio."
QUESTÃO ANTERIOR:
- (UPE 2020) No Modernismo brasileiro, diversos autores utilizaram a metalinguagem para refletir sobre o processo de criação literária, uma vez que a metalinguagem reflete a própria linguagem utilizada.
GABARITO:
e) No Texto 15, o narrador-personagem destaca a imagem simbólica do rio na narrativa, tendo em vista as relações simbólicas entre o pai, o filho e o rio. Há, ainda, conexões entre o ir e o vir do movimento do rio com a sugestão simbólica da morte em: "no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio."
PRÓXIMA QUESTÃO:
- (UPE 2020) Sara escreveu três números de quatro algarismos, cuja soma vale 12.345, sendo o primeiro número 6.789; no segundo número, Sara apagou o algarismo da dezena e, no terceiro, ela apagou os algarismos da centena e da unidade de milhar, conforme indicados a seguir.
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Prova UPE 2020 (3ª fase, 1º e 2º dia) com Gabarito
Texto 15
Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais.
De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. [...]
Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo.
Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.
ROSA, João Guimarães. "A terceira margem do rio".
In: Primeiras Histórias. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1988. Excertos: p. 36-37.
Texto 16
O cão sem plumas
I. Paisagem do Capibaribe
A cidade é passada pelo rio
como uma rua
é passada por um cachorro;
uma fruta
por uma espada.
O rio ora lembrava
a língua mansa de um cão,
ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio
de aquoso pano sujo
dos olhos de um cão.
Aquele rio
era como um cão sem plumas.
Nada sabia da chuva azul,
da fonte cor-de-rosa,
da água do copo de água,
da água de cântaro,
dos peixes de água,
da brisa na água.
Sabia dos caranguejos
de lodo e ferrugem.
Sabia da lama
como de uma mucosa.
Devia saber dos polvos.
Sabia seguramente
da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio
jamais se abre aos peixes,
ao brilho,
à inquietação de faca
que há nos peixes.
Jamais se abre em peixes.
MELO NETO, João Cabral de. O Cão sem Plumas. Excertos.
Disponível em: http://www.algumapoesia.com.br/
poesia/poesianet001.htm. Acesso em: 15/05/2019.
Texto 17
O mangue e os caranguejos sugerem os movimentos da coreografia
no espetáculo da Cia. Deborah Colker, inspirado no poema O cão
sem plumas, de João Cabral de Melo Neto.
Disponível em: http://www.teatrosergiocardoso.org.br/
event/caosem-plumas-2019-06-02/Acesso em: 15/05/2019.
QUESTÃO 12
(UPE 2020) Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto são autores que se destacaram no Modernismo brasileiro. Considerando as características das produções literárias desses autores, assinale a alternativa CORRETA.
a) O Texto 15 é um fragmento do conto A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, com narrador onisciente que relata o episódio do isolamento do pai no rio. Guimarães Rosa destacou-se no Modernismo brasileiro como autor que utilizou linguagem simples para representar o dialeto do nordestino, inaugurando um regionalismo ingênuo.
b) O Texto 16 apresenta um olhar poético sobre o Capibaribe, rio metaforicamente simbolizado pela imagem de um "cão sem plumas", com sua sujeira, sua poluição, sua ausência de peixes. Também conhecido como "poeta engenheiro", João Cabral de Melo Neto criou uma poesia marcada pelo preciosismo formal e pela objetividade extrema na descrição da realidade, características marcantes do Modernismo brasileiro.
c) Os Textos 15 e 16 apresentam relações intertextuais, pois os autores construíram a imagem do rio poluído, intrinsecamente ligado às cidades e em sintonia com a vida miserável das personagens. Em Guimarães Rosa, contudo, o rio é desprovido de simbolismo, ao contrário do rio Capibaribe de Cabral.
d) O Texto 17 dialoga com o Texto 16, sobretudo, nos versos: "Sabia dos caranguejos/de lodo e ferrugem. Sabia da lama/como de uma mucosa." Contudo, a fotografia da cena, ao mostrar a expressão estática dos dançarinos, distancia-se da representação simbólica de O Cão sem Plumas de João Cabral.
e) No Texto 15, o narrador-personagem destaca a imagem simbólica do rio na narrativa, tendo em vista as relações simbólicas entre o pai, o filho e o rio. Há, ainda, conexões entre o ir e o vir do movimento do rio com a sugestão simbólica da morte em: "no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio."
QUESTÃO ANTERIOR:
- (UPE 2020) No Modernismo brasileiro, diversos autores utilizaram a metalinguagem para refletir sobre o processo de criação literária, uma vez que a metalinguagem reflete a própria linguagem utilizada.
GABARITO:
e) No Texto 15, o narrador-personagem destaca a imagem simbólica do rio na narrativa, tendo em vista as relações simbólicas entre o pai, o filho e o rio. Há, ainda, conexões entre o ir e o vir do movimento do rio com a sugestão simbólica da morte em: "no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio."
PRÓXIMA QUESTÃO:
- (UPE 2020) Sara escreveu três números de quatro algarismos, cuja soma vale 12.345, sendo o primeiro número 6.789; no segundo número, Sara apagou o algarismo da dezena e, no terceiro, ela apagou os algarismos da centena e da unidade de milhar, conforme indicados a seguir.
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Prova UPE 2020 (3ª fase, 1º e 2º dia) com Gabarito
COMENTÁRIOS